segunda-feira, 13 de abril de 2009

a morte

Era uma vez a morte. A morte era a morte porque toda a sua família o tinha sido e quando o pai morte e a mãe morte se juntaram, acidentalmente, sem querer, geraram uma filha morte. A morte pai e a morte mãe acabaram por morrer, como aliás acontece com todos que estão vivos.
Então, a morte viu-se obrigada a seguir com o negócio da família morte já morta.
Era a única morte que restava de uma linhagem de nobres mortes, uma morte acidental.
Esta morte era acidental mas não era santa. Um dia encontrou uma morte egoísta. Uma daquelas que quer a morte só para ela.
Ora, a morte acidental, acidentalmente, matou a morte egoísta, estragando, desta forma, o auge da vida de qualquer morte egoísta.
Claro que, depois, a morte pediu desculpa, mas ficou sempre aquele rancor entre a morte acidental e o espírito da morte egoísta. Ainda hoje não se falam, embora este lapso tenha sido recompensado, alguns tempos mais tarde, dando a morte acidental, a sua vida para salvar o filho da morte egoísta. A morte passional ficou eternamente grata. Mas não se falam.

Não se falam porque as mortes são todas mudas.