quinta-feira, 24 de julho de 2008

Erro

A mobilidade. A adaptabilidade. Tudo isso é necessário para quem procura uma sombra num parque da cidade. Pesssoas sentam-se, pessoas levantam-se. Mantêm-se as árvores.

A ideia surgiu num fim de tarde de domingo, ela estava enrolada num manto luminoso, o sol era reflectido pelo óleo que usava.

-Era o que havia a fazer- disse-me ela.

Eu compreendi, era mesmo o que havia a fazer. A mãe não cuidava do filho. Ela era a mãe, e eu o pai. Assim faríamos uma familia.

Ele também compreendeu, a ideia era tão lógica que nem o tribunal a descartou e abraçou-a sem reservas.
Ele está lá fora, com ela. os professores dizem que é sobredotado, não me agrada. Já vivi semelhante situação e não foi nada fácil.

É por isso que hoje vivemos numa casa, numa encosta, numa escarpa de uma ilha.
agora começa...

domingo, 20 de julho de 2008

coisas práticas

As aftas. As coisas desprovidas de sentido, a não ser o sentido de nos tirar o sentido do gosto. Priva-nos dos maiores dos prazeres.

A angústia, o medo, o pavor. Tudo isso sentia naquela hora, naquele momento. A pior das sensações varria o meu corpo. Mas nada disso interessa descrever, nada disso para mim, agora, importa. Porque não interessa chorar sobre o leite derramado.
Interessava, sim, ter-se prevenido e não ter derramado o leite, mas nem isso eu fiz, nem para isso eu servi.
Sinto-me uma inútil. Não aproveitei para beber o leite enquanto o tinha e agora entornou-se.
Eu nem sabia que gostava de leite. Ele estava lá sempre. Eu bebia o leite sem dar conta, sem sentir a angústia do desmamamento.
Pavoneio-me pela sala, vazia.

Ainda não acredito que ele ganhou a custódia do meu filho.

O meu filho, meu! filho.
A casa esta vazia, demasiado vazia. Vou comprar um T0.

Tenho de ir comprar mais leite.
procura-se Titulo para a história

quarta-feira, 16 de julho de 2008

rascunho

Os mosquitos, seres minúsculos, que a escuridão, própria da noite, oculta, são revelados pelas intrusas luzes que iluminam o que deve permanecer escuro.

A pergunta apanhou-me desprevenido. Não tanto pela inocência com que foi proferida, mas pela falta ou impossibilidade de resposta. Assim como não tinha pensado sequer que o acto obrigatório, como antes era o recensiamento, por lei em que se tornou a dádiva de esperma pudesse trazer tais reprecursões.

Quantos mais filho poderia eu ter? Quantos mais irmãos poderia ter o meu recente filho? Quantas das crianças que agora vejo a rua não serão fruto das minhas sementinhas?

Mas se todos descendermos do mesmo macho, qual será o espaço para a diversidade genética? Seremos, um dia, todos iguais? Tudo porque o cromossoma Y é demasiado fraco e não foi devidamente protegido?

O número de crianças não diminuiu, pelo contrario, até, há cada vez mais crianças. Nascem quase como coelhos por causa da inseminação. Mas isso quer dizer que o decrescente número de macho é cada vez pai de um maior número de crianças.

Como posso nutrir um sentimento tão grande de dever de protecção, de amar, de educar, não por um, mas por muitos filhos? Seria a mesma coisa se eu os conhecesse todos?

E há umas horas atrás lá estavamos, eu e o meu filho, a regressar da escola, quando ele me pergunta:
-Tenho irmãos?

terça-feira, 15 de julho de 2008

composição

Ele enche, volta a encher. Ultrapassa os próprios limites do recipiente. Enche. Ele ri-se, e ele enche. Comédia. Enche. Enche. Explode!
Barulho.

-O meu pai é fixe!

O meu pai é muito fixe, mas eu não sei se gosto dele. Ele conta-me histórias para adormecer, mas eu nunca adormeço. Quero ouvir o que acontece ao Bom.
O meu pai dá-se bem com a minha ama. É giro vê-los a piscar o olho. Parece que lhes entrou alguma coisa lá para dentro e eles estão a tentar tirar.
A minha ama é como o meu pai: não gosta nada das "estupidas modernices" é assim que ela lhes chama.
Acho que ela não se dá muito bem com a minha mãe. Eu também não gosto dela. Ela dá-me presentes mas nunca foi lá à escola. Nunca vai a uma festa de anos comigo. E o meu pai vai. Ea não me dá as boas noites antes de dormir, porque não esta em casa. O meu pai quando não está manda-me um e-mail. Eu gosto dele. Dele e da minha ama.

domingo, 13 de julho de 2008

revés da moeda

O sono. Imbatível e invencível.Restaurador. Durmo.

-Porque é que tenho um pai?

Todos os dias levo o meu filho à escolinha. Não pela mão. Parece mal dizia-me ele, um dia destes. Mas vamos a pé.Quero que ele se recorde de mim. Quero que se recorde que era diferente e será diferente. Quero que se recorde.
Eu já não me recordo da minha infância. Ninguém lhe deu muita importância, assim sendo, eu também não dava. Não fixei o nome dos animais aos três anos (pelo menos não me lembro de os fixar), não me lembro se alguma vez caí e o meu pai me ajudou, não me recordo da minha primeira recordação desde que me lembro de ser gente. Mas ela aparece. Tipo flash. Tipo fotogramas que interrompem o filme da minha vida.
Eu e ele chegamos à escola todos os dias à mesma hora. Talvez por ser tão organizado e querer incutir isso na educação dele.
A primeira vez que o fui levar ele sentiu-se tão mal que chorou ao chegar a casa. A verdade é que não se via um único macho da espécie humana nos arredores da escola, a não ser, of course, os alunos da escola. Nem se via nenhum familiar de uma qualquer criança a levá-lo à escolinha. Os filhos chegam todos do mesmo sitio, e, ao fim do dia vão todos para o mesmo sitio. Nesse sitio não são os pais a irem buscá-los, são sim as amas. Por isso eu vou buscar, todos os dias, o meu filho a casa da mãe e levo-o à escola. No final do dia, vou buscá-lo à escola e levo-o a casa da mãe.
Logo o meu filho é diferente. Como é mau ser diferente na primária. Já no meu tempo era mau. Já no tempo do meu avô assim o era.
O normal é as mãe viverem sozinhas, chegam a casa já com o/a filho/a na cama. Dirige-se para lhe dar um beijo, mas repara que já é tarde fica, assim, para amanhã, para depois, para nunca mais.

O meu filho não sabe se gosta de ter um pai. confessou-o à ama. Ama que é bem jeitosinha e mantêm uma relação de proximidade comigo.

O meu filho gostava de ser como os outros filhos de outras mães. Mas eu não quero ser como outros pais que não sabem que o são, e que têm um papel cada vez mais insignificante em qualquer campo da sociedade.

Os homens são os novos escravos desta sociedade que não lhes deixou espaço algum na evolução que sofreu. Os homens que se deixaram levar pela aparente razão dos argumentos feministas que nada mais fazem do que realçar as fraquezas de quem os profere.

-Tom, tens um pai porque é necessário um pai e uma mãe para fazer um filho. É preciso duas pessoas para gerar o rebento que evoluirá como os desenhos animados que vês na televisão.-Até amanhã à mesma hora- digo eu com um sorriso.
-Xau pai, vê se te atrasas.
may be

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Iluminar

A distorção acontece. Passa-se aquela fase em que estamos perfeitamente racionais, mas fingimo-nos alterados para que possamos levar a nossa avante. Caímos redondos no chão. Divertimento.

O Outono havia passado há muito. É verdade que quanto mais velhos, mais devagar passa o tempo, mas para mim não era justificável aquela sensação de ter vivido uma vida num dia. Era o primeiro dia de Inverno. Toda a minha curta existência procurei emoções marcantes, procurei o sangue a regar-me o corpo todo de adrenalina, de medo, de euforia. Claro que experimentei drogas, mas o efeito foi escasso para o que pretendia. Sentia-me vazio desde que me lembro. Aliás, só ontem soube o que é não se sentir vazio, só ontem soube que me sentia vazio, só ontem.
Mais uma vez o plano falhou. Ainda bem. Eu, que outrora pensara em nunca mais fazer nada fora do delineado, ontem, arrependi-me. Ainda bem.
Todos teríamos um plano se soubéssemos todas as vertentes, todas as variáveis. Mas nem todos sabemos. Duvido que alguém saiba. Já antes não se sabia. Mas andava-se mais perto da verdade.

Ontem. Ultimo dia de outono. Há muito que não havia folhas para cair, nem árvores para as deixar cair.

Ontem conheci o meu primeiro rebento. O meu primeiro sucessor, o meu primeiro filho.
Não sei se filho é a palavra mais adequada. Não conheço a mãe, e conheci o filho em condições não usuais, mesmo para estes tempos.
Apesar da situação, o sentimento predominante era o de felicidade. Um ser humano que não conhecia, mas que era feito por metade dos meus genes. Poderia ter parado para tentar reparar nas habituais parecenças, mas não, não era eu que me conduzia e os médicos tinham pressa. A situação era demasiado urgente.
Aquela criança, cuja mãe, independente, fora buscar as minhas sementes a um banco de esperma, precisava urgentemente de um transplante. Claro que tudo poderia ter sido evitado se ela tivesse guardado as células estaminais.
Não queria pensar nesse cenário. A sensação de necessidade da minha pessoa era a melhor coisa que já tinha vivido. Claro que estava nervoso.
Fiquei mais nervoso quando recebi o e-mail a notificar-me para a operação, e a sua urgência. Desde aí que que vivo completo.
Irei conhecer o meu filho se tudo correr bem.
Claro. Adormeço. Vai começar.Escuro
to be continued

quinta-feira, 10 de julho de 2008

há coisas que não mudam,(sempre)

E o volume dos ruídos que me atormentavam o aparelho auditivo desceu. Tudo deixou de importar, ou ser importado. Apenas aquilo que eu queria ver, ouvir, sentir, passei a ver ouvir e sentir.Apenas isso, nada mais.

Acordei no dia seguinte. Bem-disposto e sorridente. "Eu sou uma pessoa alegre"-pensava eu enquanto comia e lia o e-jornal 3D.
Desloquei-me como de costume para o emprego, mas o dia não iria ser como de costume. Pelo menos eu fazia planos de assim não ser.
O sobreiro, o triângulo que eu fazia questão de manter na minha mente, tinham-me inspirado para a minha tarefa de hoje. Hoje não iria só trabalhar. Hoje não iria só ansiar pelo termo do horário diário de trabalho. Hoje, algo de muito mais importante esperava-me.
Cheguei ao trabalho. Cumprimentei todos aqueles que vi no caminho. Estava confiante.

O trabalho correra conforme o planeado. Tudo na minha vida correra conforme o planeado. Tudo excepto hoje. O plano desmoronou-se quando ela iniciou a frase. Tem de haver sempre uma ela. É quase como obrigatório para os homens que haja sempre mulheres a pôr fim à sua monotonia. (e ainda bem). Mas não no meu caso. Era demasiado importante.
"John"-disse ela, com aquele olhar de piedade-"eu não sei como te dizer isto..."
Ela não sabia como o dizer, mas acabara de mo transmitir. Já sabia a resposta. Virei costas, não por estar zangado ou furioso, mas apenas para que ela não visse a lágrima que me escorria no rosto.
"John, desculpa"
Não chamei o avião como no dia anterior, tinha vindo a pé, iria a pé. Joguei a caixa quadrada com fotografias dela a passar, em slide, o mais longe que consegui, não chegou a cinco metros.
A caixa queimava-me a mão e o peito, mesmo depois de me ter desfeito dela. O que poderia ter corrido mal? Não está destinado aos homens saber o que corre mal nestas situações.
O efeito do gás, novamente, adormeço.
To Be Continued

segunda-feira, 7 de julho de 2008

estranho,tudo

O rio corria, nem velozmente, nem vagarosamente, simplesmente corria. As margens cheias de nada e de quase tudo deixavam-me a sensação de já lá ter estado. Não agora, porque era a primeira vez que lá ia, não assim.
As árvores, estáticas, balançavam com o vento. O chilrear dos passa ritos que por lá voavam ensurdecia a minha mente, dispersa no chilrear, concentrada no dejá .
As pedras, lavadas constantemente pelo rio sem terem a oportunidade de se sujarem, pareciam (pelo menos a mim pareciam) dorsos de baleias azuis, amarelas, cinzentas e verdes.
Tudo ali cheirava a campo, a terra, em que agora me sentara, a casca de pinheiro que arrancara e que desfazia na mão por simples distracção. Tudo. Todas as coisas de que me lembro cheiravam, e as que não me lembro deviam cheirar porque não cheirava a mais nada.
Lembro, ah! disso eu lembro-me. Lembro-me de me ter deitado com a cabeça virada para o rio, de forma a ver as árvores, as silvas e toda a vegetação que envolvia aquela margem.
O caminho por onde eu viera ficava na outra margem, eu não queria ver caminhos, não queria ver a intervenção do homem em mais um lugar sagradamente selvagem. Não. Eu queria era ver a multidão. Queria ver a solidão do homem que eu era, mas já não sou.
O lugar, conhecia-o das histórias do meu avô, que me descrevia cada espaço, cada ser, cada centímetro de terreno com uma precisão de topógrafo. Ele levou-me àquele lugar muito antes de eu lá ter estado.
Lembrei-me quando vi a marca no sobreiro que dominava a paisagem e no qual eu ainda não tinha reparado. Estava lá a marca que o meu avô dizia ter conquistado a minha avó. Um simples triângulo, com duas arestas arredondadas e enfiadas para dentro e a outra, pontiaguda, desviada do centro. O meu avô falara-me que aquele era o símbolo do amor. Aquele era o símbolo que se fazia às raparigas para dizer que se gostava delas.
Chamei o meu avião. Mandei-o para longe. Queria aproveitar toda a natureza do caminho para a levar comigo. Não queria esquecer aquele lugar, único, raro, agora.
O avião esperava-me, fielmente como outrora faziam os animais de raça canina.
Voltei para casa. Esta já me tinha preparado a refeição que lhe pedi durante o voo.
Ao adormecer, sob o efeito do gás por mim inventado, pensava no lugar, no meu avô, no sobreiro e no triângulo de pontas estranhas que lá encontrara. Tudo isso me marcara.
Como seria bom se eu fosse o meu avô.

domingo, 6 de julho de 2008

fala-se e entende-se

Era um daqueles dias de Verão, em que a chuva não deixava a lua cheia penetrar por entre as nuvens de poeira que fazia o vento calmo.

Pensamos, muitas vezes, de forma linear, outras de forma complexa e outras, ainda, não pensamos. Pensar requer o esforço mental de fazer funcionar o cérebro. Pensamos quando temos que o fazer, e raramente quando nos apetece. Pensamos quando não devemos ou não queremos.
Temos, então, a necessidade de nos exprimir para os outros. Temos de tornar útil, aquilo que pensamos. Se não, de que serve pensar?
Mas será que aquilo que pensamos é aquilo que dizemos que pensámos. Será que utilizamos as palavras certas? Ou será que quem nos ouve dá o mesmo significado às palavras que nós que as dizemos?
É uma ligação complexa. Quem fala, o emissor, tem de ter em conta quem ouve, para que este o perceba da melhor forma. Mas, mesmo assim, o receptor pode não perceber aquilo que ouviu, não da forma que o emissor quis que ele percebesse.
É uma ligação complicada, geradora de muitos conflitos. Quando não é gerida da melhor forma, a comunicação pode ser o mote para muitos confrontos bélicos. Uma simples palavra forma do contexto pode despertar o mundo para a guerra.
É uma ligação subtil. Esta ligação passa despercebida a todos nós quando a operamos. Nenhum de nós pensa nas consequências que podem ter as palavras que dizemos, a forma como as dizemos. Ou quem as ouve e a forma como as interpreta ou sente.
É de palavras que o nosso mundo é feito. É de comunicação que vivemos. Se não existisse um padrão para que as palavras significassem o mesmo para todos os que as proferem, não haveria descobertas proclamadas, feitos festejados, mudança desejada.
Hoje em dia, é necessário ter cuidado com aquilo que sai da nossa boca. Não só os pirolitos que saem quando espirramos, mas também quando proferimos palavras dirigidas a um público muito vasto: diferentes faixas etárias; diferentes classes sócias; diferentes mentes.
Um presidente da república, quando se dirige à nação, ou quando responde a uma pergunta de um jornalista, tem de ter em conta quem o vai ouvir. Ele sabe que todos vamos tirar as ilações do que ouvimos e que cada um tirará as suas conclusões acerca do que foi dito.
Quão perigoso e instável pode ser esta ligação? Que esforço teremos, nós de fazer, se queremos, um dia, ser entendidos e compreendidos?
si iu laiter

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Blogs

Nós. A juventude. Todos.

Nós podemos ser o que quisermos pois ainda não somos nada.

A juventude não está estragada, aprende com os erros que vai cometendo.

Todos faremos o mundo ficar na mesma, o que já não é mau, uma vez que não piora.


Isto para introduzir o tema”impacto dos blogs na sociedade juvenil” (parece um daqueles interessantes temas da sociedade civil _ apresentado por Fernanda Freitas, de seg. a sex às 14h e qualquer coisa)
Os blogs há muito que são uma moda. E como a própria Internet, meio fulcral para o aparecimento dos blogs, tem aspectos positivos e negativos.
A sociedade passa, agora, mais tempo a escrever, escreve mais, participa mais. Isto é muito bom, uma vez que desperta o interesse de muitos para a escrita, e, quiçá, descubramos o novo Pessoa. Podem ser muitos, assim, descobriremos o novo Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos.
Passamos mais tempo a escrever. Damos mais importância a temas que escrevemos, logo há uma maior consciencialização das pessoas e de mim próprio para as problemáticas que envolvem o quotidiano.
Damos mais atenção a promenores, a formatações de textos. Assim, se algum daqueles que escreve um blog editar um livro, não se conformará com a formatação standart que todos os livros incluem. Quererá uns excertos a cor-de-rosa, umas palavras mais pequenas e noutro tipo de letra, etc.
Mas, nós ao escrevermos tanto, deixamos de ler, deixamos de admirar aqueles que realmente executam, em toda a extensão da palavra, a literatura, deixamos de ter referências literárias, passamos a ter referências bloguistas. (isto se calhar é um pouco exagerado para a nossa geração, mas a vindoura, com a quantidade de blogs, talvez padecerá desta problemática) .
comprimentos

quinta-feira, 3 de julho de 2008

as casas alentejanas

Quando aqueles dois fogosos corpos, sedentos um do outro, se tocam depois do jejum a que foram submetidos: os olhos brilham, fechados na escuridão imensa do prazer de não ver o momento, apenas para o sentir; os seres, insaciáveis, procuram-se mutuamente sem fim à vista; as mãos percorrem todo o percurso que já conhecem, mas que facilmente esqueceram para voltar a explorar; os beijos, suaves, molhados, longos, curtos, sufocantes, salgados, molhados, como uma seta que lhes bate no coração, para os deixar feridos para sempre.


As casas alentejanas não são brancas por causa da reflexão da radiação.


As casas alentejanas são brancas por causa do anúncio Tide.


As casas alentejanas, antes eram feitas de pedra.


As casas alentejanas, ainda antes disso, eram cavernas, e as cavernas não eram
brancas.


As casas alentejanas não podiam ser brancas porque se não ficavam castanhas como pó e o touro confundia-as com uma vaca.


As casas alentejanas só são brancas, depois das estradas do Alentejo começarem a levar alcatrão no focinho.


Se não houvesse alcatrão nem o anúncio Tide, as casas alentejanas, hoje, ainda não eram brancas.




abraços do agricultor de milho, tá na altura dele....bom!!!


p.s catarina, já que gostaste tanto do blog, arranja mais algumas pessoas para irem lendo os textos e irem comentando. como a Verinhaa diz: para ficar mais bonito

quarta-feira, 2 de julho de 2008

nada nunca é nada

Escrever sobre alguma coisa é complicado, há gente que diz que escrevo sobre tudo.
Então imaginem escrever sobre nada. Nada mesmo. Rigorosamente nada. Sabendo que o nada é uma contradição em si mesmo. Uma vez que nada é a não existência, mas tem pelo menos o nome, logo já não é nada.
É complicado definir nada. Nós nunca vimos nada. Nunca cheiramos nada, e segundo Hume só temos percepções daquilo que já experimentámos.
Então como podemos ter a ideia do nada?
Simples, não podemos. Mas continuamos a teimar em tê-la como uns miúdos mimados a pedir um qualquer objecto aos pais:
- Já te disse que não podes pensar no nada!
- Oh pai… Mas eu quero o nada. Nada, nada, nada. Nada, nada, nada!
- Queres ficar de castigo? E não faças birra!
Lá esquecemos o nada quando somos ainda gaiatos. Mas quando as primeiras borbulhas atacam voltamos á carga:
- Quem me dera não ter nada na cara!
É um castigo para os pais verem os filhos, assim, a revoltarem-se contra uma educação completa. Muitos pensam que os filhos vão dar em marginais. Muitos levam-nos a psicólogos. A verdade é que quando acordam para o problema já é tarde de mais. E aí não há nada a fazer.
Os meus próprios pais enfrentam, agora, uma grande ameaça de depressão por causa deste meu texto. Mas havia de chegar o dia em que eu, FAR, tinha de enfrentar o mundo, sujar-me na lama, dar cabeçadas nos bicos das janelas, enfim, levar estaladas por apalpar mamas.
abraço deste agricultor de nadas no quintal

terça-feira, 1 de julho de 2008

obrigado

Merecem. Por isso os meus sinceros agradecimentos.
Para a menina Vera:
Obrigado por desde o inicio ter comentado o nosso blog, obrigado por n ter deixado que nenhum texto ficasse por comentar, obrigado pela generosidade das palavras, obrigado.
Para a Catarina “Someone”:
Obrigado por ter defendido estes “pobres” agricultores, que nada mais fazem para além de exporem as suas opiniões livremente. Obrigado por ter sido tão simpática nos elogios à minha pessoa tecidos, com os quais não concordo mas aceito de bom grado.
Obrigado, também a todos os que alguma vez, por qualquer feliz acaso, comentaram este blog, tornando-o mais rico.

Isto até parece um texto de despedida, mas não, desculpem mas ainda não é agora que se vêem livres de nós. Isto é o cumprimento de uma exigência de Verinhaa. Uma exigência à qual cedo com o maior dos agrados. Vera, não vale obrigar as pessoas!
agradecimentos deste agricultor de batatas