segunda-feira, 12 de outubro de 2009

aparências

Estou a ser revistado no metro. Boa! Deve ser da barba, acham que trago uma bomba a tira colo? Talvez na mala? Ainda por cima a bomba está ali, cinco metros à frente deles, se mordesse…

Não estou a ser revistado, ainda bem. Sabia que valeria a pena investir num fato da Zara, uns sapatos a condizer e um penteado larilas. Já não falta muito para que possa descrever, com saber empírico, todas as virgens do céu. Falta pouco para que os traidores deste país aprendam que, embora passados tantos anos, tantos acordos de uma suposta paz libertadora, aqui, no meio da confusão, do caos, encontraremos todos a libertação. Temo a bomba na mala e o dispositivo para a accionar no bolso. Talvez lhe pegue para lhe sentir o calor e o poder.

Bem dizia a minha mãe que a barba ainda me ia dar problemas. Eu, oficial dos serviços de informações de um qualquer país demasiado endividado para se dar ao trabalho e luxo de sustentar espiões, a ser revistado, sem poder dizer que há uma bomba no metro, mas que não sou eu que a tenho porra! Por um triz não entrava, fiquei mesmo com o braço preso na porta, o que fez com que o bombista, o a serio, se afastasse o suficiente para que eu não chegasse a tempo de…

Alá protege aqueles que são audazes o suficiente para cumprir o que lhes está intimamente destinado. Ficou preso na porta, excelente, e ainda há uns estúpidos idiotas que acham que não existe um Deus, veremos como serão recebidos às portas da eternidade. Tenho as mãos suadas, o rosto talvez incerto, não o vejo. Mas uma senhora olha-me com pena. Pena? Iremos todos para um sítio melhor, não há razões para penas. E se não formos? Nada a fazer há agora, o homem libertou-se e vem atrás de mim, terá de acontecer agora…