domingo, 22 de março de 2009

electrões

A nossa necessidade de comunicar faz-nos imaginar histórias com mais do que uma pessoa envolvida, duas talvez. E, por isso eram dois. Dois electrões, seguindo rotas definidas, não por eles, mas por um complexo jogo de atracções e repulsões que os guia num fluxo orientado. É este fluxo que me permite, todos os dias, acender uma lâmpada, iluminar a escuridão. Que fariam eles se soubessem daquilo porque são responsáveis?

Ficaram os dois, sozinhos, abandonados no meio do nada. O ambiente reflectia os seus estados de espírito. Contradizendo a vontade de estar ali, revoltavam-se por não terem tido a oportunidade da escolha. Queriam estar, mas angustiava em cada alma a falta de responsabilidade por uma atitude que não tinha sido deles. A problemática que nos consome a alma todos os dias, ela que nos faz hesitar entre o hambúrguer da direita ou o da esquerda, essa que eles não haviam tido, e choravam por ela. Pediam por ela, mesmo quando tudo foi feito de acordo com a vontade de ter os dois espíritos unidos num, de não haver uma sociedade que os influenciassem, que os virassem, um contra o outro, de costas. Porque eles queriam estar um contra o outro. Os seus braços apertando, mantendo a união volátil muito para além das suas forças. Queriam o corpo, desejavam-no. Um corpo, resultado da união de dois outros corpos que sozinhos nada tinham a ver com a situação.
Permaneceram, feitos dois estúpidos adolescentes, cheios de fome de ser adultos mas com a fartura da criança casmurra, que teima, faz birra, senta no chão.
Não foram capazes de fazer a única escolha possível. A única que iria de acordo com ambas vontades. Porque era uma escolha, e eles escolheram.
Escolheram ficar na ignorância um do outro. Não se conhecer. Manter o medo. Á medida que o tempo passa, a hipótese ignorada vai ficando cada vez mais aliciante. O arrependimento cresce de dentro para fora. Mas é de fora a sua origem. O arrependimento e a frustração caminham, juntas, lado a lado com a escolha.
E assim que escolhermos, não olhando para trás, ficará sempre o arrependimento. Frustração. Por fim, memórias.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Sorrisos

O cimo da montanha é desejado por quem vive no sopé, mas é desprezado por quem, por cima, passa, cortando o vento com asas de metal.

Os problemas de que se padece são tudo o que ocupa a mente, tudo o que se vê, a água para o rio. A solução, a sua busca, são a miragem, a água no deserto.
Um sorriso faz, das palavras, quimeras para o coração. Não vivemos de forma a sorrir para as pessoas, mas vivemos a falar para elas. Todas as questões que nos impedem de sorrir uns para os outros são obstáculos a uma vivência em plenitude para o espírito. Os nossos problemas são grandes, enormes para a capacidade que pensamos ter. Maiores do que suportamos. A definição de uma deprimida existência pode revelar-se pela solução tardia de um problema.
Mas a solução é sempre a mesma. Para os meus problemas sou eu. Para os teus problemas és tu.
O espelho mostra-nos a verdade. Mostra quem somos, quem mostramos ser. Não mostra quem pensamos ou proclamamos ser. É duro. Inconveniente, mas não há fuga possível àquilo em que nos tornamos.
O caminho faz-se caminhando, com os olhos postos no caminho por caminhar e não no já caminhado.