terça-feira, 13 de julho de 2010

dossier de livros de folhas soltas

“ Eu já sei a verdade, apenas preciso de a ouvir da tua boca”


“Não consigo, desculpa, não te quero sujeitar a isso”


Realmente não conseguia. Queria mas não conseguia. Queria tanto como queremos quando empurramos uma estante cheia de livros à espera que ela se mova. Mas ela não se move e ele não conseguia, não consegue. As razões são as mais variadas. Podem ser escritas num dossier de livros de folhas soltas por não terem qualquer ligação para construir um enredo. De qualquer forma, sabe-as de cor, são dele. Serão? Será apenas a cabeça que exclui tudo o que já viu e leu na estante de livros e apenas não quer porque é uma maçada, ou serão os livros que estão na estante desadequados para a missão que se pretende incumbir nele mesmo.


As folhas nas quais escreveu as suas razões nem estão agrupadas por capítulos, separadores ou qualquer outro tipo de cor. São apenas linhas nem rectas nem curvas de pensamento que, sendo aleatório, levam à mesma conclusão, sempre.

As coisas saídas da boca têm outro valor do que aquelas apenas percepcionadas pelas situações em geral... assim pensavam eles. E pensam. Da boca sai aquilo de que estamos convencidos. Aquilo sobre o qual pensamos, despensamos e voltamos a construir o pensamento. Principalmente estas verdades, que são verdades, e por verdades serem, doem, e doem a valer. Porque dói o mundo, e doemos nós com o mundo, sempre que a verdade se divulga a flutuar no mar de mentiras e omissões que por nós passa todos os dias.


A verdade seriam acordes bonitos, os mais bonitos, se gostássemos de os ouvir. Sairiam da boca e não de guitarras ou flautas. Iluminariam o mundo. Limpariam-no. E seria apenas a verdade e nós todos, partilhando o verde das árvores e o escuro da noite. Não precisaríamos de candeeiros, luzes de presença ou outras que tais. Mas precisamos. Precisamos de tudo o que nos tire da nossa eterna solidão. Nunca, verdadeiramente, acompanhamos ou somos acompanhados. Nunca partilhamos experiências, pois a minha será sempre recordada de forma diferente da tua.


E ele não pode deixar que palavras, simples e inofensivas, se tornem uma arma letal que firam o seu âmago para sempre. Não agora.