quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Jonh Doe

A tua marca impressa no tronco da árvore, os olhos que brilham, o corpo que anseia por ver chegar alguém.

E lá estava ele. Outra vez. Sem anseios. Sem desejos. Sem aquilo que faz suar o povo. Sem futebol. Um homem. Com mais vinho do que esperança. Com mais pó do que bronzeado. Vive? Vive. Vive ao pé das escadas para o metro do Martim Moniz. Afogado em depressões, em anti-depressivos? Não. A tristeza é como a pobreza, uma pessoa habitua-se, não faz dela uma doença. A felicidade, a concretização, não se põem em questão. Quando não há objectivos que perdurem a um litro de vinho, não há nada para conquistar, nada para saborear ser conquistado.

E quando a revolta se apodera? Quando todos os que passam nos puxam para baixo. Quando se vê um inimigo em cada esquina. Parte garrafas de cerveja, lança impropérios a alguém que passa demonstrando um objecto que ele nunca possuirá.

Mas tudo passa. Tudo volta. Mas tudo passa. Porque vive sem garantias: tidas e dadas. A isto se chama viver hoje, porque amanhã, um dia, será hoje também.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Nostalgia

Olho para a rua na esperança de te alcançar, de te encontrar, mas não encontro. Procuro o brilho do teu olhar, aquele que me faz sonhar por ti, ansiar de ti.

Procuro tudo aquilo que passou. Na calçada, debaixo dela, até já procurei no lixo do caixote, mas não veio. Não voltou. Não voltaram as horas às escondidas de todos, atrás das oficinas. Não voltaram os dias passados a olhar para ti, mesmo quando ainda não olhavas para mim. Não voltaram as aulas de Área de Projecto, em que fazíamos tudo para que te risses, te enervasses, no entanto nunca perdias a postura.
Não voltam os dias passados com as professoras e professores de sempre, aqueles que nos conhecem, que nos olham nos olhos e vêem a alma. Porque nós, desta idade, não conseguimos esconder a alma de um olho bem treinado.
Não voltarão as tardes passadas no clube, os dias passados no clube, só nunca lá passámos nenhuma noite. Comemos lá, borgámos lá, festejámos lá. Estudámos lá. Trabalhámos lá. E no fim, com a demolição daquele espaço foi um pedaço de cada um que só voltamos a encontrar no espaço reduzido que dedicamos às memórias mais felizes.
Na verdade, se à turma A1 fosse pedido um símbolo do que foi o seu 12º ano, seria o clube de certeza. Pelo menos para mim e para a cambada que lá ia bater a sesta, aliviar a pressão intestinal. Sacar as infindáveis séries de televisão americana, legendadas em brasileiro. E, sem nunca esquecer, espreitar as aulas de educação física de certas colegas nossas.
Foi toda uma conjuntura de boas filosofias. Desde o dolce faire niente, carpe diem, etc ( sem esquecer a preguiça, mãe de todas as filosofias, e elevada a um expoente máximo nas nossas vidas naquele clube, naquelas cadeiras, naquela carpete).
No final, sem grandes pressas, grandes correrias, excepto, vá, na semana da apresentação final do nosso grande trabalho (pena não ter sido gravado, grande momento de televisão, ao vivo!), fomos todos cortando a meta. Pena é alguns terem de continuar a dar voltas ao pavilhão.

p.s. podíamos ser uns ignorantes, uns burros, asnos completos em toda e qualquer matéria, mas éramos os masters das exposições orais de português!