segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Consumismo

O sorriso é o que mais efémero podemos apreciar. Custa tanto obtê-lo. Passam-se dias sem que tenha a verdadeira vontade de sorrir, sincero e desprotegido, mostrando a alma num gesto. No final do dia, é natal.

Certo dia, pela vida andava um homem. Esse homem tinha um cão. Ora, esse cão tinha muitas outras coisas, como pulgas, que não são importantes agora. Onde eu queria chegar mesmo era à vizinha da minha mãe que comprou uma scooter nova.

A scooter é nova, anda bem, polui menos, faz menos barulho. Tudo vantagens. Está ela feliz e estou eu feliz. Só não está feliz o senhor da mercearia. Isto porque, segundo a minha vizinha, gastou o dinheiro que tinha e não tinha na scooter e agora não tem para pagar a divida da mercearia. O problema é que a minha vizinha consegue andar a pé, só não consegue passar sem comer, apesar de ser magrinha. Presumo que, agora, já não esteja tão feliz, a minha vizinha. Não faz barulho a scooter, é verdade, mas faz o estômago. E este barulho, ao contrário do outro, não a deixa dormir.

A vizinha da minha mãe também é minha vizinha. Mas só nas férias e aos fins-de-semana. Ela trabalha muito, mas agora trabalha menos por não dormir nem comer. Assim, não tem dinheiro nem para a gasolina da scooter, passou a andar a pé. Ao andar a pé, chega ao trabalho já cansada, podia ser bom para emagrecer, mas ela já não tem dinheiro para comer. O patrão dela é que não gostou muito da brincadeira, chegava, a minha vizinha, a cheirar mal como uma peixeira. Foi para a rua, contar as pedras do caminho, porque também este estava sozinho. Mas a minha vizinha não estava sozinha, tem a scooter e também tinha um cão. Contudo, e devido aos infortúnios do destino, neste caso do cão, morreu, coitado, de fome. Melhor dona e talvez não morresse.

Chegou a altura do campeonato para fazer o balanço. Se no inicio, com a nova scooter andava eu em representação dos vizinhos todos, e a minha vizinha contentes. Agora ando eu e mais ninguém. De notar as pessoas que foram ficando tristes ao longo da jornada, incluindo o pobre do cão.

Pois a minha magrinha vizinha, mais magrinha não podia andar, se não, desaparecia. Então, foi a minha vizinha, roubar. Assim, conseguiu, por momentos, encher a despensa. Roubou a mim e quem sabe a ti. E ninguém gosta de ser roubado! Deste modo, fui eu, e talvez tu, falar com a minha vizinha, disse que a minha mãe cozinhava para ela, se ela não roubasse as coisas dela. Disse-me ela ao caso, (com voz fininha de desdém) eu ganhou mais a roubar que a trabalhar, assim já posso comer que nem um porco, e ninguém me apanha. Não apanhava porque a scooter não faz barulho.

Agora estão os vizinhos tristes e a minha vizinha contente. Mas é sol de pouca dura minha gente.

A vizinha, que também é minha, não era profissional. Era uma, não era muitos. Então, juntou-se o pessoal, porque éramos muitos e ela só uma. Estragou-se a scooter e apanhou-se a dona.

Assim, como moral da história, levou, a minha vizinha, uma sova, por causa da sua scooter nova.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Jonh Doe

A tua marca impressa no tronco da árvore, os olhos que brilham, o corpo que anseia por ver chegar alguém.

E lá estava ele. Outra vez. Sem anseios. Sem desejos. Sem aquilo que faz suar o povo. Sem futebol. Um homem. Com mais vinho do que esperança. Com mais pó do que bronzeado. Vive? Vive. Vive ao pé das escadas para o metro do Martim Moniz. Afogado em depressões, em anti-depressivos? Não. A tristeza é como a pobreza, uma pessoa habitua-se, não faz dela uma doença. A felicidade, a concretização, não se põem em questão. Quando não há objectivos que perdurem a um litro de vinho, não há nada para conquistar, nada para saborear ser conquistado.

E quando a revolta se apodera? Quando todos os que passam nos puxam para baixo. Quando se vê um inimigo em cada esquina. Parte garrafas de cerveja, lança impropérios a alguém que passa demonstrando um objecto que ele nunca possuirá.

Mas tudo passa. Tudo volta. Mas tudo passa. Porque vive sem garantias: tidas e dadas. A isto se chama viver hoje, porque amanhã, um dia, será hoje também.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Nostalgia

Olho para a rua na esperança de te alcançar, de te encontrar, mas não encontro. Procuro o brilho do teu olhar, aquele que me faz sonhar por ti, ansiar de ti.

Procuro tudo aquilo que passou. Na calçada, debaixo dela, até já procurei no lixo do caixote, mas não veio. Não voltou. Não voltaram as horas às escondidas de todos, atrás das oficinas. Não voltaram os dias passados a olhar para ti, mesmo quando ainda não olhavas para mim. Não voltaram as aulas de Área de Projecto, em que fazíamos tudo para que te risses, te enervasses, no entanto nunca perdias a postura.
Não voltam os dias passados com as professoras e professores de sempre, aqueles que nos conhecem, que nos olham nos olhos e vêem a alma. Porque nós, desta idade, não conseguimos esconder a alma de um olho bem treinado.
Não voltarão as tardes passadas no clube, os dias passados no clube, só nunca lá passámos nenhuma noite. Comemos lá, borgámos lá, festejámos lá. Estudámos lá. Trabalhámos lá. E no fim, com a demolição daquele espaço foi um pedaço de cada um que só voltamos a encontrar no espaço reduzido que dedicamos às memórias mais felizes.
Na verdade, se à turma A1 fosse pedido um símbolo do que foi o seu 12º ano, seria o clube de certeza. Pelo menos para mim e para a cambada que lá ia bater a sesta, aliviar a pressão intestinal. Sacar as infindáveis séries de televisão americana, legendadas em brasileiro. E, sem nunca esquecer, espreitar as aulas de educação física de certas colegas nossas.
Foi toda uma conjuntura de boas filosofias. Desde o dolce faire niente, carpe diem, etc ( sem esquecer a preguiça, mãe de todas as filosofias, e elevada a um expoente máximo nas nossas vidas naquele clube, naquelas cadeiras, naquela carpete).
No final, sem grandes pressas, grandes correrias, excepto, vá, na semana da apresentação final do nosso grande trabalho (pena não ter sido gravado, grande momento de televisão, ao vivo!), fomos todos cortando a meta. Pena é alguns terem de continuar a dar voltas ao pavilhão.

p.s. podíamos ser uns ignorantes, uns burros, asnos completos em toda e qualquer matéria, mas éramos os masters das exposições orais de português!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

aparências

Estou a ser revistado no metro. Boa! Deve ser da barba, acham que trago uma bomba a tira colo? Talvez na mala? Ainda por cima a bomba está ali, cinco metros à frente deles, se mordesse…

Não estou a ser revistado, ainda bem. Sabia que valeria a pena investir num fato da Zara, uns sapatos a condizer e um penteado larilas. Já não falta muito para que possa descrever, com saber empírico, todas as virgens do céu. Falta pouco para que os traidores deste país aprendam que, embora passados tantos anos, tantos acordos de uma suposta paz libertadora, aqui, no meio da confusão, do caos, encontraremos todos a libertação. Temo a bomba na mala e o dispositivo para a accionar no bolso. Talvez lhe pegue para lhe sentir o calor e o poder.

Bem dizia a minha mãe que a barba ainda me ia dar problemas. Eu, oficial dos serviços de informações de um qualquer país demasiado endividado para se dar ao trabalho e luxo de sustentar espiões, a ser revistado, sem poder dizer que há uma bomba no metro, mas que não sou eu que a tenho porra! Por um triz não entrava, fiquei mesmo com o braço preso na porta, o que fez com que o bombista, o a serio, se afastasse o suficiente para que eu não chegasse a tempo de…

Alá protege aqueles que são audazes o suficiente para cumprir o que lhes está intimamente destinado. Ficou preso na porta, excelente, e ainda há uns estúpidos idiotas que acham que não existe um Deus, veremos como serão recebidos às portas da eternidade. Tenho as mãos suadas, o rosto talvez incerto, não o vejo. Mas uma senhora olha-me com pena. Pena? Iremos todos para um sítio melhor, não há razões para penas. E se não formos? Nada a fazer há agora, o homem libertou-se e vem atrás de mim, terá de acontecer agora…

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Maria Ana e João Carlos

Por estes tempos, em que faz chuva no verão, sol no Outono, e eu irei para a praia este fim-de-semana, deu-se um romance épico, da grandiosidade de Pedro e Inês, com a fatalidade destes somada com Romeu e Julieta. Nunca percebi porque é que o nome do homem vem primeiro. Desta forma, este é o romance de Maria Ana e João Carlos.

Maria, tratá-la-ei assim para me facilitar a produção escrita, era uma rapariga, como dizer, banal. Como todas as raparigas da sua idade, Maria passava horas no msn. Este programa permite a jovens mais tímido uma pré saída do armário em que os pais os fecham assim que nascem. Espreitam cá para fora, sentem o vento na cara, e passam a depender dessa sensação para viver. Viciados. Foi no msn que a Maria conheceu o João. Bom, no msn conheceram-se mas trocaram o “primeiro olhar” no hi5, ainda não estava na moda o facebook.

Ó longas conversas até as duas e três da manhã só com a troca enfurecida, desvairada, de smiles que não queriam dizer nada, mas que para eles diziam tudo. Ó nicks que levavam a percepção de cada um a extremos: “será que é para mim?”, “olha, não compreendo o teu nick, é para mim?”. E assim se faziam conversas durar semanas, porque cada um tinha aulas na sua escola e só se viam no ciberespaço.

Até que um dia, João, como bom rapaz na puberdade, deixou que a testosterona falasse mais alto, e começou no engate. Deu-se, então, início à descoberta do mundo lá fora, o João abriu o tricô do armário, só esperava que a Maria o deixasse abrir a porta de par-a-par para que, juntos, sentissem o mundo.

O engate foi-se dando, aos poucos, mas lá ia. Antes devagar que parado. Maria já só via João online, já não falava com mais ninguém, já tinha um daqueles telemóveis com msn, o que fez João implorar aos pais para também ter um. Agora já podiam estar sempre juntos. Maria adorava João, comentava todas as suas fotografias do hi5 e jogavam juntos os mesmos jogos online.

E então João avançou. Deu-lhe com toda a força na paixão e fez a pergunta. Foi com a coragem e determinação de quem já não se importa de mandar com a cara na parede, apenas não a pode ter parada.

E então veio o suspense. A hesitação só possível na comunicação via internet, o “Maria está digitando uma mensagem” não saía dali. Maria tinha ido jantar e sem querer carregou no espaço. Coitado do João. Passados dez minutos de espera, o desespero tomou conta da sua ainda pobre alma.

Fez um ultimato. “Eu sem ti não sou nada, responde-me, ou então ponho fim à minha pobre vida”. Pobre rapaz, há dias assim. Maria mortinha por dizer que sim, mas tinha os avós em casa e não pode sair da mesa tão cedo.

O pior de tudo é que esta história passou-se no verão. Chovia torrencialmente e a luz da casa de Maria foi embora. o computador era móvel, infelizmente a internet não. “Maria desligou-se”. João tomou isso como um afronte, e matou-se. Maria, quando viu no jornal do dia seguinte, chorou mas não se matou.

Rapazes com flores

Nem todos os rapazes são maus

Nem todas as flores bonitas

Muitos falam sem paus

E as flores, até as acho catitas.


Há já tempos que não rimava

Ui, desde o tempo da senhora do arroz

Mas hoje para a quadra, virado estava

E foi isto que minha pessoa aqui pôs:


Para rimar é fácil

Basta perceber o que rima.

Fácil, não é izi, é difícil,

E rima, rima com a prima.

Se preto com branco ficasse certo

Punha-os assim bem perto.

Um num lado, outro no outro

Assim,

Canta querubim,

Dança o Alvim,

Em tronco nu,

Alto! Para aqui muitos davam

Mas com o Alvim nu não dançavam…

Assim até eu parecia bonito,

Com alguns copos de um bom tinto

A cantar pouco afinadito,

Mais uns copos e lá vai o cinto.

Só mais uma rima, desta vez rica

Para terminar.

A olhar para o mar,

E a comer batatas fritas com sabor a paprica.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Duas e tal para mais

A esta hora chove, faz sol, e há bar aberto algures por essa, esta, nossa, pequena Terra.



Por estes lados, nada do anteriormente sublinhado foi suficiente para animar o nosso protagonista. Encontro-me a três bancos dele, vamos sentados “ao contrário”. Muito bem conservado, cabelos loiros com as raízes pintadas de preto, ou será ao contrário? Engraçado ao contrário, vejo a cara muito bem maquilhada, por sinal, nem sinal de poros abertos, uma base exagerada, uns olhos marginados de um azul berrante, tipo a Edite e o preto. Tem umas bochechas tipo João Soares, não será o pai porque seria exagerado. Digamos que poderia ser mais parecido, não fosse o reflectir da base que exageradamente foi usada na cara. Vejo a cara desta senhora para um olhar mais desatento, um senhor, penso eu cá para os meus botões, que, solitários, ansiavam por companhia, invertida, através de um espelho que se encontra na parte inferior do sítio onde é mais apropriado guardar as malas, tipo autocarro, mas no inter cidades Lisboa-Porto. Bom, posso estar enganado, mas para a historia, por via a ficar mais interessante, admitamos que de um travesti se trata.



Deixem-me, agora, falar-vos do que acho serem os travestis. Sim, já não escrevo há algum tempo e por isso permito-me a tais devaneios. Uma longa modernice, que remonta a séculos muito próximos ou distantes, se pensarmos em tempo histórico ou geológico. Uma tradição, como as touradas – as quais eu sou manifestamente contra, não por uma suposta sensibilidade feminina, sou muito macho, mas por achar que há formas mais eficazes de nos divertimos do que ver um animal morrer aos poucos e, para uma sociedade que se preocupa tanto com os seus animais de estimação que ate lhes paga estadias em hotéis próprios para o efeito, fica mal os seus espíritos excitarem-se tanto com um sofrimento tão irremediável como o rio que corre. Vejam como começo a falar de travestis e acabo em touros. Voltando aqueles travestidos, o dicionário, surpreendentemente aceita a palavra. E eu a pensar que tinha sido o Sócrates a inventa-la. Bom, agora a sério, isso fazia sentido quando os homens partiam para meses de solidão no mar, sem alguém do sexo oposto para o saciar. Agora com uma razão de um para sete, não faz sentido que homens certos da sua masculinidade optem por material de tão fraca qualidade. Por isso, a longo prazo, muito longo, tão longo que nunca me poderão chamar a responder se estiver errado, como nunca saberei se estiver certo, prevejo o declínio de tão afamada espécie, para euforia do PNR.



O desagrado deste nosso protagonista é evidente, pela demora da viagem, o desconforto, a falta de espaço para as minhas longas pernas, o desconto para cartão jovem, o preço dividido a meio, bem, só desvantagens este inter cidades, parece o TGV. E, também, por causa do PNR.



Mas seria maior o tal desagrado, desconforto, nervosismo, todas as más sensações que vos passem pela cabeça, se estivesse lá ele, no meu lugar, quando uma mala caiu-me na nuca, era dura, uma mala, e é giro repetir uma mala, enfatizando o efeito da dor que senti assim como cria um bom efeito cacofónico.



Por fim, com a anseia de continuar a escrever, já que vou de enfiada, mas com as pálpebras a pesar, deixo-vos com a mais que esperada referência futebolística. Mas agora que penso nisso, não sei bem que hei-de dizer. Talvez continue a escrever para dentro como a minha mãe diz ao meu pai, que via os jogos do antigo Benfica, do Benfica do Quique para dentro. Viva Benfica, viva Jesus. Ámen (foi apenas para ultrapassar as 600 palavras, mas com esta frase parentética, já ultrapassei em larga escala).

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

, de ressaca

E ali estava ele. Desconfortável, a bexiga, apertada, a rebentar. Como todo o bom miúdo, o medo do escuro deixava-o esfusiantemente assustado. É normal o medo. Houve alguém que disse que há dois sentimentos no mundo: o amor e o medo.

Do amor vem a simpatia, a paixão, a amizade, o carinho, e todas as coisas boas que faz sorrir o mundo.

Do medo vem o ódio e etc. O medo é mau.



Bem que o puto tem razão, não gosta do escuro e faz bem.

O escuro não nos deixa ver uma cara bonita, uma pessoa bonita, mas não nos impede de reconhecer uma alma bonita. E a alma é tudo o que no fim teremos. Podemos comprar relógios de 5000 euros, andar com plim-plins no pescoço, mas no fim é com a alma que vamos, como foi com a alma que viemos.

Como era bom reconhecermos as almas como vemos as caras. Assobiar uma alma bonita, fazer uma careta a um bandido que passasse, assim como fazemos com as gajas boas e as fracas, feias e tal.




Se houver almas gémeas, daquelas que encaixam tipo duas peças consecutivas de um puzzle, e se tivermos a sorte de encontrar a nossa, ou nossas dependendo da filosofia, então ficarão as nossas almas mais bonitas, tranquilas, sem medo.

domingo, 16 de agosto de 2009

after hours

Um olho de vidro. Uma pupila dilatada. Um olhar sedento de misericórdia, uma postura militar, fria, nórdica.



Todos temos problemas. Alguns do tamanho do Monte da Graça, outros do tamanho dos Pirenéus. Nem todos os ciclistas têm categoria para participar na Tour. Os obstáculos são do tamanho da nossa capacidade de os ultrapassar.



Era uma vez um homem. Campónio, iletrado, andava de scooter e bebia cerveja e vinho tinto fresco. Trabalha nas obras. Tem uns quantos filhos, muitos, alguns, já maiores, só conhecem o número da conta da qual vem a pensão de alimentos, outros, davam tudo por passar a vida na sua companhia, mas a falta de condições na habitação que dispõe impele a Segurança Social a fazer o seu trabalho.

Trabalha, muito. Mas é burro. O patrão aproveita-se. Vive explorado. Chora quando falam dos filhos e ele se lembra de referir que falta meio-dia em cada quinze dias para ir visitar os filhos, mas que o patrão, para descontar menos para uma futura reforma, afirma faltar uns sete ou oito dias por mês.




Os tempos mudam, a vida passa. As verdades mudam, os homens ficam, a vida passa. Passa a vida , ficam os homens a ver passar a vida.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

sindicato de greve

E lá estava ele. Um estranho naquela terra estranha. Um estrangeiro. Não é fácil ser estrangeiro, ainda por cima naquele país. O país dos resignados, ou conformados, em português do Brasil. Como é óbvio, no país dos resignados, vive toda a gente resignada. Não há uma alma penada que esteja descontente com algum assunto. Isso faz muita confusão a todos os estrangeiros que tentam lá viver, principalmente a este enviado especial de uma central sindical mundial.

Neste país as leis são votadas por unanimidade, os primeiros-ministros saem quando se sentem velhos e pretendem dar lugar aos mais novos.

A democracia foi imposta pelos estados unidos, depois de se descobrir petróleo na zona, os americanos acharam muito injusto para a população o regime ditatorial em que os habitantes resignados viviam.

Como é óbvio, não havia manifestações nem greves, nem queixas ou descontentamento, desta forma não há trabalho para um dirigente sindical. Desta forma entrou de greve. Um dirigente sindical de greve.

Assim, o estrangeiro, acabado de chegar, foi um pioneiro.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

atitude inteligente

Está escuro. Faz sol lá fora. Ouve-se o cantar mudo do poeta. Ouve-se o chilrear profundo da ave de canora.


A profunda reflexão a que me tenho dedicado nas minhas horas de laboração fez-me perceber o quão inútil é reflectir, o quão inútil é escrever e ainda por cima para um blog fraco como este. Ainda se fosse o José Rodrigues dos Santos, o Miguel Sousa Tavares, o Paulo Coelho, o Luís Sepúlveda, a J.K. Rowling, o Dan Brown, etc. Ainda era como o outro: ganha-se dinheiro, alguns, muito dinheiro, admite-se. Agora, eu, um adolescente, que na vez de ir para a praia ganhar bronzeado para a miudagem ver, enfio-me dentro do quarto, computador ligado, ausente no msn, Word aberto, e estou deitado a escrever estas porcarias para meia dúzia de gatos-pingados lerem. Sem qualquer tipo de desrespeito por quem lê, mais por apreço à minha pessoa que aos meus textos. A verdade é que tempo para ir à praia terei quando estiver a chover, porque a praia é linda deserta, porque na areia molhada é mais fácil andar, e porque eu gosto de guarda-chuvas. Agora, trabalho ao pé dos fornos porque está frio.

Tudo isto fez-me pensar no que é realmente inteligente fazer. Com a morte do Raul Solnado, pensei que fosse inteligente fazer humor, mas depois percebi que para isso é preciso trabalhar no duro, e eu prefiro trabalhar no mole, ao sol. Depois apercebi-me da quantidade de viúvas que choravam a morte desse grande homem, maior em metáfora que o Bruno Nogueira, e encontrei a formula para uma vida bem sucedida: ser lésbica. Ser lésbica é a atitude inteligente. Excitam-se mais os homens com as lésbicas, há mais oferta devido à razão entre homens e mulheres ser tão díspar, e haver cada vez mais homossexuais. Por fim, se quiserem ser actrizes, nada melhor que serem lésbicas devido à falta de oferta para esses papéis. Isto para as mulheres, claro. Para os homens, não sei, e quando souber guardarei no íntimo do meu ser para que a concorrência seja escassa.

Por fim deixo-vos com uma frase batida: se não fosse eu, que seria da minha vida.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

serviço público

E lá estava outra, agora. Pergunto-me com que sentimento as pessoas se aproximam do folheto da funerária que avisa da morte de um, ou não, conhecido. Pergunto-me, também, se é assim que nós próprios temos conhecimento da nossa morte. Ganhamos o hábito de ver todos por quantos passamos à medida que envelhecemos. Depois de mortos vemos a nossa fotografia naquele quadrado próprio, fotografia tipo passe, e pensamos: “ estava mesmo acabado, eu”, suspiramos e seguimos caminho. Mas desta vez já não evitamos chocar com as pessoas. Por isso é que se costuma dizer que foi para um sítio melhor.

Mas as pessoas, à medida que vão envelhecendo, e acontece especialmente nas mulheres, porque também são elas quem mais tempo têm para envelhecer (há tantas viúvas e tão poucos viúvos que nem imagino o forró que deve ser com os velhotes), começam a sentir curiosidade por quem está na fotografia. Se não conhecem, passam como se tivessem visto um anúncio de oferta de emprego, despreza-se e esquece-se rapidamente. Mas, se porventura, com o maior dos azares, calha já termos avistado a pessoa algures podem surgir dois tipos de comentários: “já não era novo, coitado”, ou então, “ai tão novo, que terá acontecido?” e telefonam à mãe, à irmã, à tia, à colega do trabalho, e talvez, algumas, à cabeleireira a perguntar se sabem de alguma coisa. Se conhecem um dos nomes dos familiares mas nunca viram a cara do homem, nem imaginavam que a dona Maria augusta já tinha um genro que tinha duas bonitas filhas, uma de três, outra de quatro décadas. “Ai estive fora tanto tempo, e já agora, como é que vão as coisas lá por casa” e assim inicia-se uma conversa que dá para dois dias inteiros. Um para se informar, o outro para informar os mais próximos. Pois as mulheres são as primeiras jornalistas. Também há homens assim, por isso é que há viúvos. Homens assim duram tanto como as mulheres. Nesta situação acresce-se o sentimento de dever na comparência de sua Ex.ª no funeral. Vão, recebendo ai o total update dos acontecimentos mais recentes, com toda a contextualização agregada, incluindo classificações filogenéticas dos habitantes envolvidos em qualquer escândalo. A classificação é efectuada da seguinte forma: “estás a ver aquela moça que casou com o filho do carpinteiro?” “a Lucinda?” “não essa casou com o mais novo, a outra, aquela que antes até tinha namorado para aquele que diziam que se fumava, ai passa-se-me agora o nome” "já tou a ver”.

Há, devem estar a perguntar-se quando são pessoas próximas de nós. Bom, aí não se vê os folhetos. As pessoas avisam numa corrente telefónica que era capaz de salvar o BPP se este fosse uma operadora móvel.

Se somos nós, seguimos caminho, cabisbaixos, sabendo que nunca mais teremos de olhar para as paredes cheias de papeis brancos à procura da nossa cara.

sábado, 11 de julho de 2009

escola da vida

José Saramago, prémio Nobel da Literatura em 1998, não frequentou a escola, mas sabe ler e escrever.

Logo, não é preciso ir à escola para saber ler e escrever.


Belmiro de Azevedo tem a quarta classe e é o homem mais rico de Portugal.

Logo, basta-nos a primária para que saibamos como ficar ricos.


Muitos dos trabalhadores da construção civil bebem minis como um ser humano normal nunca conseguirá, conseguindo abrir a garrafa da cerveja sem saca-rolhas. Contudo, muitos não têm mais do que o 6ºano, alguns têm o 9º.

Logo, não é obrigatório mais do que o 2º ou 3º ciclo para que nos possamos embebedar de caixão à cova.


Zézé Camarinha, admito que não sei a escolaridade exacta dele, mas suponho que n tem mais que o 12ºano.

Logo, não é necessário mais do que o secundário para conseguir arranjar gajas boas e estrangeiras.


Universidade, para quê?

com alma

A vida dá voltas. Dar voltas significa ir para a frente e para trás. A vida não brinca. Não dorme. Esquecemo-nos da vida, mas ela não se esquece de nós. Abandonamos a vida sem que ela nos queira deixar.

Pensamos nas consequências, nas causas, porém a vida, apesar de tudo, ensina-nos apenas a viver. Inesperamos o impossível quando é ele que mais queremos.

Deus escreve direito por linhas tortas – sim, sou um homem crente – e nós escrevemos torto em linhas direitas. Contudo, isto de direito e torto é uma questão de perspectiva, como Ele está lá em cima, vê melhor para escrever.

Acordo, de manhã ou à noite, com sono. Deito-me sem ele. Durmo com vontade de viver e passo a vida a dormir. Todavia, é assim que aprendo a saborear a vida mesmo que esta teime em não me entrar na boca!

Acredito em Deus, penso na Sua existência, logo, na minha cabeça, pelo menos na minha cabeça, Ele já existe. Acredito que eu um dia perecerei mas, as minhas acções, os textos que aqui ponho, este texto, assegurará a minha vida eterna em alguns que terão o azar de ir depois de mim.

Por fim, com vista a finalizar esta minha reflexão acerca de mim mesmo, resta-me agradecer. Agradecer a Deus, à vida e a ti que me lês. A Deus, por existir, mesmo que na minha cabeça, à vida, por me dar nozes, tendo eu dentes e a ti porque me lês.

Cumprimentos sinceros

Obrigado

a liberdade---grupo III do exame de português 2009...4,8.

A liberdade é um bem precioso, pelo qual muito lutámos e sofremos, mas que não sabemos respeitar.

Muitos dos nossos avós lutaram por uma coisa que não conheciam. Lutaram contra um regime, um homem, mas foi a liberdade a sua maior conquista. Era a promessa do progresso, da comida na boca, a extinção de entraves às palavras que saíam da boca que os movia. Conquistámos, então, a liberdade. A peso de ouro. Homens e mulheres que todos os dias lutavam – e ganhavam pequenas batalhas – foram presos e mortos. Foram as pequenas batalhas que nos fizeram ganhar a liberdade, mas, primeiramente, fizeram-nos querer ganhá-la.

Ganhamos. 25 de Abril é comemorado todos os anos com pompa e circunstância. Ganhámos o quê? A liberdade de alguns? A liberdade que alguns têm de restringir e anular a nossa? Veja-se os casos de corrupção em bancos onde pessoas tinham as poupanças de uma vida e agora, depois de reformados, terão de mendigar às portas da igreja.

Nem a liberdade de votar, de exprimir a nossa opinião sobre o rumo do país ganhámos! Pessoas há, que continuam sem ir votar. Não porque não queiram, mas não podem. Estão longe de casa. Não percebem o que eles – políticos – dizem ou fazem. Então não vale a pena o esforço (a gasolina está cara!). Põe-se uma cruz e fica tudo na mesma.”Isso é lá com eles, não me interessa”. E continuamos a permitir que seja sempre, e só, com eles.

A nossa liberdade acaba quando começa a do outro. Mas por inocência, permitimos que “espertalhões”interfiram nela. É nossa, temos de fazer uso e fruto dela para que o sacrifício daqueles que pereceram não seja em vão.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

sonhos

Houvera já dias piores que aquele, muitos. Demasiados. Mas aquele, este, é o dia, todos os outros haviam passado, este era o dia que doía. Sofrera, padecera por vezes, a lutar por este sonho. Todos queremos lutar por um sonho. Todos nós temos um sonho. Todos nós abdicamos desse sonho em certa altura da vida. Todos nos lamentamos por isso. Todavia ele lamenta-se, hoje, por não ter abdicado desse sonho. O sonho. A razão de todas as acções, passadas, futuras, pensadas, sofridas.

As crianças sonham em se tornar heróis. Dependendo da definição de herói de cada um, cada um escolhe uma profissão. Bombeiro, polícia, astronauta, cientista (o que quer que isso signifique), médico, cantor, actor (ou ator, segundo o novo acordo ortográfico), autor. Enfim, aspira-se a felicidade, vive-se a felicidade. A felicidade do nosso protagonista foi protagonizada pela sua aspiração a agente secreto de uma bela agência. Onde se fala em código e se salva o mundo todos os dias. Como vem nos romances.

Claro que há pessoas mais obstinadas que outras. Umas desistem ainda não saíram da escola. Outros vão desistindo pelo caminho. Às vezes, quando a vida se torna, ela própria, obstinada, não nos dá tempo para desistir. Mas este homem, cuja história está, aos poucos, a ser imaginada e contada, mas faz de conta que é verdade, correu literalmente atrás do destino. Por várias vezes aconselhado a parar. A desistir. Que o que o esperava não era o que ele estava à espera que o esperasse, porque não é o que normalmente se espera.

Não sei o que ele esperava, não mo revelou, apesar da minha insistência. Quem me conhece sabe que posso ser bastante persistente. Sei o que encontrou. Uma vida passada numa secretária, a traduzir código morse, para treino de futuros agentes. Morreu ontem na única pitada de acção que a sua vida acidentada teve, um acidente cardiovascular.

domingo, 28 de junho de 2009

telescópio

Os dias acabam e começam, começam e acabam, sem que ninguém nos pergunte se queremos que isto suceda.



O embrulho era perfeito. Tinha as medidas exactas. A forma e peso que imaginara para o novo carro xpto que todos os colegas iriam ter. Também teria! E excitação não cabia no se pequeno corpo. Não podia esconder mais a felicidade que sentia por saber que lhe ofereceriam o presente certo. Seria a cereja no topo de um bolo seco, sem recheio. Ao menos teria a cereja. Ao menos não se esqueceram do meu pedido.

Descalço – como na canção de natal – desce as escadas a uma velocidade supersónica, uma aterragem no limiar da segurança impede que ele caia, mande com a cabeça na esquina da porta e não só não veja o presente, como também não veria muito mais coisas o resto da vida. É o destino do miúdo ser desiludido mais uma vez. Abre o papel do embrulho, melhor, rasga, com toda a ferocidade que lhe é permitida em tão tenra idade. Um telescópio. Quer dizer, ele não sabia o que aquilo era. Mais tarde aprendeu a dar-lhe o nome, hoje era apenas a personificação de mais uma seta cravada no seu pequeno coração.

O calmo e perseverante pai não desistiu, não cedeu face à birra. Não gosto mais de ti. Deixa-me. Não falo mais para ti. Levou-o, arrastado (também é leve) ao à varanda do quarto do pequenote. Montou o telescópio. Disse-lhe para espreitar pelo sítio devido. Pediu ajuda para as últimas afinações do tripé. O garoto nunca fora tão feliz. O pai a pedir a sua ajuda. Importante. Teimoso e intimidado por tamanho aparato, espreita a medo. Não vê nada. Um pai também não sabe tudo, faltava tirar o plástico que protege a parte da frente da lente. Agora sim. Via as estrelas com que adormecia todos os dias muito maiores. E ele a pensar que elas eram do tamanho dos cereais. Afinal são muito maiores. Queria ver mais, aumentou a gradação – por instrução do pai – mas deixou de ver.

“Nunca te aproximes demasiado” - advertiu o pai.

sábado, 27 de junho de 2009

gargalhadas

Quem sou eu senão o que pensam de mim? Quem sou eu senão a memoria que sobrevive à minha morte? Podemos pensar ser ricos, bonitos, mas se outros não concordarem não é isso que somos. Somos a imagem que vêem de nós, e não o que pensamos que vêem.

O cheiro da música, é como o sabor das palavras, não se sente. Sentimos dor, ouvimos barulho e vemos o mundo. Por isso um surdo não ouve Beethoven, apesar de Beethoven ter sido surdo. O mesmo acontece a que não sabe, não percebe, não vê. Se nascemos todos com as mesmas capacidades não sei, sei que fazemos uso e fruto de maneiras muito diferentes daquilo que nos foi dado viver.


Joaquim é mestre-de-obras. Tem 39 anos. É casado, divorciado, e agora junto. Junto com mulher, a importância da necessidade deste esclarecimento está na visão que dá de uma sociedade virada do avesso, como pensa o Joaquim. Ele tem filhos, entregues a segurança social, por não ter rendimentos suficientes. Anda de scooter, não faz a barba, e tem a pele queimada do ofício. É feliz. Não se importa com o que s outros pensam, é simplesmente feliz.


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O Rogério é médico. Tem 39 anos. Andou na turma do Joaquim. O Joaquim tinha mais sucesso com as raparigas. O Rogério tinha óculos e aparelho. Ganha para si e para duas famílias. Não que as tenha. Não tem ninguém, é sozinho. Às vezes sente falta de ter com quem desabafar as angústias rotineiras da sua profissão. Fala para um boneco de peluche, oferecido pela única namorada. Investe na bolsa, é bem sucedido. Dorme pouco. Não passa sem um whisky, viciado? Não, isso é para pobres, ele é necessitado. É um miserável, invejado por todos os que com ele trabalham. Cobiçado por todas as enfermeiras, e alguns enfermeiros. É feliz? Não.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sondagem

Qualquer sugestão de resposta mais interessante, bem como desabafos que contribuam para que outras pessoas se sintam menos mal podem ser postadas em comentário a esta mensagem.
Obrigado, contribuam!


p.s. peço desculpa pelos erros ortográficos, é para verem o que me espera do exame de português!

luar de lua nova

Look out the stars, look how they shine for you

Como era belo o luar em noites de nevoeiro. Se o víssemos acharíamos que sim. Como não o vemos, pode ele saltar, pular, correr, rir-se de nós que nada disso será notado. Coração que não vê, olhos que não sentem.

Pode até ser verdade, mas naquele instante, sentiram olhos e coração, ficaram cegos olhos e coração. Oh, o coração já não aguentava de tanto ver, e os olhos ardiam de tanto sofrer. Acalmam-se os órgãos por via da falta de respiração dela. Ela, a causa do seu tormento, encontrava a paz que por certo não desejava. Mas o filho sem o pai não existe, e o que os une é o espírito santo. E sangue nela não existira sem o suor e a carne, não seria agora. Porque ele não queria viva, calada e sossegada já era um caso a considerar.

Primeira vez. Quantas não há numa vida. Quantas não haverá a tirar uma vida. Já que se estria, que a estreia não esteja sozinha em momento tão glorioso, junte-se mais umas poucas à caldeirada.

Os passos são calmos e lentos. O sangue perpetua-se na sede. O luar esconde-se por detrás do telhado da sua casa. Sua e dos seus filhos. Crianças inocentes e tentadoras. Oh quando se esvai a ténue linha que nos separa do lado de lá da neblina!

domingo, 14 de junho de 2009

Abraçados

2 anos passaram, e parece que foi ontem, abraçado a ti estava eu, sem saber bem porque, mas estava, estava a gostar. Num dia aberto, numa sala de moral, num dia de sol, num campo de jogos, estávamos os dois abraçados, e 2 anos passaram e ainda estamos abraçados, e abraçamo-nos com cada vez mais força, hum mm muito abraçados! É tão bom estar abraçado a ti. 2 anos que passaram, que ficarão para sempre na história, uma história só nossa, que mais ninguém tem de saber, porque abraçados, mais ninguém nos importa, porque dos dois que éramos formámos um nós muito forte capaz de passar por cima de muito. Sem estar abraçado a ti, provavelmente, não era o mesmo que sou hoje, talvez tivesse dado a mão a muita gente, mas não era como um abraço, um abraço está no topo dos afectos, só abaixo de um beijo quente e molhado, mas como era impossivel viver sem respirar, abraçamo-nos, e assim continuaremos…

Diagonal

Apesar de estar ausente deste blog praticamente desde sempre, lembrei-me agora, de entre o estudo de Português e Economia similaridades entre Pessoa na mensagem e os conceitos económicos. Não é concerteza um texto do Master Farmer, mas é do gajo que anda com um ansinho na mão..
Já dizia na sua altura, lá para 1900’s e tal, o sor pessoa, numa inquietação pela inovação, dizia o moço que seria vital para a nação a criação do chamado Quinto Império, império esse regido pela cultural, fazer com que os portugueses libertem de si os exploradores que outrora fomos, a curiosidade que nos levou a vasculhar o oceano, a ousadia e coragem necessária ao empreendedorismo que necessitamos hoje.
Não!! recusamos ouvi-lo, recusamos ouvi-lo e queixamo-nos, queixamo-nos da crise, dos patrões que são maus patrões, não que não o sejam, mas recusamos ouvir Pessoa, ou se ouvimos, passou por entre as noticias de uma contratação milionária de um qualquer jogador de futebol.
Recusamo-nos a ir buscar o D. Sebastião, que por terras de África ficou e se recusa a voltar para um país onde reina a letargia. Essa que nos prende a um trabalho que não é destinado aos sucessores do grande D.Sebastião que se estivesse no activo seria provavelmente o fundador de uma multinacional e não teria de ir combater os mouros.
Temos de fundar o Quinto Império, um Império intelectual, não pelas novas oportunidades, mas pela criatividade dos portugueses, não podemos ficar sentados e deixar que nos transformem numa linha de produção dos grandes países. Um Império Cultural não pode ser derrubado, pois este tem a força de se reerguer dos destroços mais forte. Era o sonho de Pessoa, era o sonho de D.Sebastião. Devia ser realizado por todos nós, ele contam connosco.

sábado, 13 de junho de 2009

romantismos

Meu Deus, livrai-me do mal que em mim se acomoda. Livrai-me da tentação experimentada que me pisca o olho cheio de pintura e purpurina. Oh meu Deus, como posso pedir com tanta devoção que e tire algo que eu desejo tanto? Como posso eu querer algo que acho errado, achasse eu errado e não quereria.

Em divagações vagueava ela pela praça repleta de pombos famintos de comida e cheios de fome, morreu a senhora dos pombos. Nem me lembro bem quem era, mas os pombos não me incomodavam enquanto era viva. Nem a mim nem a ela. Como andava ela feliz, como ele sabia faze-la feliz. Os olhares que ela sabia que ele sorrateiramente lhe lançava. A forma como ele a negava mostrando a sua parte mais viril e aumentando-lhe a líbio até níveis inexperimentados. A questão fundamental, esse bicho, mantinha-se. Por falar em bicho lá se vai a lenha toda. Já durava uns tempos. Quase tanto quanto se espera para engolir a primeira bafada de ar.

Ele, pessoa de bem, homem com família. Filhos. Pensariam pedofilia, mas não, tem filhos, gosta de crianças como um pai gosta dos seus filhos. Falara com polícia, guarda nacional republicana, chegara a organizar uma petição ao governador civil. Nada. É que é sempre a mesma coisa. Não podem fazer nada. Pois se não podem, farei eu. Eu não, ele. Numa coisa tenho de lhe dar razão páh, ela até que é jeitosa, mas há feitios e feitios, e aquele não se pode.

Ai que pedaço de pecado.

Juro que um dia serás meu, sussurra ela, gritando, batendo, da parte de fora do carro dele. Só momentos românticos.

sábado, 6 de junho de 2009

a utopia do amor

Ai tão bonito!

Ela ficou encantada da primeira vez que com seus olhos viu a face dele. O corpo dele, as expressões dele. Tão simpático, tão amoroso. Gosta tanto das crianças. Mal ela sabe como ele gosta das crianças.

Ela nunca tinha gostado de nenhum indivíduo. Comungava por comungar. Suor, carne, sangue. Não houve vez sem a trindade. Nunca tal foi ponderado. Tal achego à sua mente faria, por certo, esquecer o que ela jurou não esquecer. O baixar das calças. A imobilização dos músculos pelo medo e surpresa, quiçá uma qualquer droga. O toque frio da fivela do sinto do primeiro no seu ventre. O toque frio da bancada da cozinha nos glúteos. Por fim, o toque frio, mas reconfortante, da faca que a mãe usava, naquela banca, para cortar a carne que iria alimentar este sujeito. Mas neste momento a fonte era a mesma, a carne e a fome diferentes.

O resto não vale a pena confessar. Já o foi a quem de direito e não nos cabe a nós julgar as circunstâncias ou vontades que movem as pessoas. Na maior parte são-nos inacessíveis e vagas, falsas. Porém, cabe-nos julgar os actos. Termos todos a noção que quem nos avalia não tem como factor preponderante os antecedentes que propiciaram a actividade avaliada?

Oh! Mas ela está disposta a mudar. Que bonito é quando o amor é unilateral, unido e embelezando a vida de uma pessoa e infernizando a vida de outra.

Pois a bicha tem companhia agora, que será delas quando a lenha acabar? Há mais lá fora!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

coisas destas

As chamas laranjas faziam estalar a lenha que ardia. A negra fogueira fornecia o calor necessário para uma coexistência agradável. Se bem que a coexistência seria agradável sem a fogueira. Como poderiam, eles, reparar, naquela fogueira. Quando tinham de olhar um para o outro. Com olhares diferentes no olhar, mas olhavam-se nos olhos.

Comungaram a carne e na vez do vinho o suor um do outro. Mas ela comungou também o sangue e ele o metal da faca que estava escondida no meio da lenha que já não irá arder. Na verdade, irá apodrecer antes que alguém se lembre de voltar a acender a fogueira.

O céu ergueu-se duas vezes antes que se soubesse, ou que interessasse para a história narrada, da personagem que abraçou a carne o suor e o sangue. Fosse a primeira vez que está trindade se juntava à comunhão da rapariga e o interesse seria o mesmo que a corrida de caracóis. Mas, ao contrário do que se poderia pensar de uma mulher tão bem perfilhada, esta deu tão para o torto, entortou tantas vezes, que construiria um polígono, ou sólido geométrico, de fazer ver a Aristóteles. Que motivos a fazem entortar? Ainda não sabemos. Aquilo que apenas nos diz respeito, por enquanto, é que o reinado desta vingadora de não se sabe bem o quê está prestes a acabar. Nascera, há uns largos anos, a personagem que para a história nasce agora, e para a torta rapariga nasceu quando saía de casa, embarcava no seu automóvel e passa um carro a correr contra o vento, fazendo-o ficar para as pessoas que atrás ficam. Ela não o viu. Ele também não. Nenhum dos dois sabe o que os espera. Sabemos, nós, uma parte. Saberá, alguém, o resto?

Pode parecer estranho. Contudo, porventura, todavia, algum de nós reparou em alguém, ou soube que já tinha visto alguém, antes de saber que este iria interferir na sua vida? Oh quão egoístas somos!

A lareira está, de momento, apagada. Uma bicha-cadela começa a apoderar-se da lenha acumulada em recipiente próprio.

sábado, 23 de maio de 2009

anti-rugas

E mais uma vez a cara dele rastejou o chão. Mais uma vez chorou lama. Mais uma vez.

Quantas vezes não tinha já ele tentado, desistido, resignado. Mas voltava para tentar. Porque tentar é tudo quanto se pode fazer. Tudo o que se pode esperar dos outros é que tentem. Lutem até perderem as forças. Lutem até que a causa seja perdida. E mesmo depois de uma causa perdida, é a causa que está perdida, não nós, e por isso voltamos a tentar. Voltamos e lutamos por aquilo que queremos. Mesmo que seja mau. Mesmo que não seja o que precisamos para a nossa agradável existência. Muitas ocasiões não queremos, nós, o que melhor nos faria.

Ainda que nos sentemos a ver a nossa doce televisão, ainda que leiamos o condescendente jornal, ainda que deixemos a nossa vida para trás em nome da comodidade, ela chamar-nos-á sempre. Em cada esquina, em cada encontro furtivo.

E o dia em que nos encontramos com a vida acaba por chegar. A razão da esperança perdida esfuma-se, e aquilo por que esperamos espera-nos. E a lama que tão bem faz à pele – tanta chique pessoa que a põe sem ter ponta do nosso usual desgosto – transforma-se num sorriso resplendoroso que fortalece e tonifica os músculos da cara sem a sujar. E ficamos todos tão bonitos a sorrir. E ficas tu, tão bonita a sorrir. 

terça-feira, 19 de maio de 2009

guarda-chuvas

  E era uma da tarde. Chovia. A pedido de todas as pessoas presentes naquele local, o sol escondera-se. Bondoso, o sol. As nuvens choravam, tristes, solidárias, infectadas pela mesma tristeza que consumia aquele amontoado de guarda-chuvas.

  As nuvens, como portadoras de vida – a água é vida, como dizem –, entristecem-se com a morte. Por isso, principalmente no Inverno, fazem por dar um sinal de esperança às pessoas, dar motivos a poetas para metáforas e aumentar o uso de guarda-chuvas. Isto porque já ninguém anda a pé. Todos temos carros. Desta forma, enquanto uns oram para que quem foi chegue ao melhor destino, em casa, sem comer, quem ficou, ora para que as nuvens lhe tragam umas gotas assustadoras para molhar o produto que vendem.

  Estes servem, ainda, para mais coisas. Une as pessoas, mostra compaixão. Nem todos temos guarda-chuva. Nem todos nos lembramos dele, porque nem todos precisamos. Mas, nem que possamos ir à chuva, se a companhia for boa debaixo de tecto, porque não?

  Era bom que chovesse mais. Certo é que o sol nos despe. Despidos é meio caminho andado. Mas a chuva entristece, força uniões improváveis. Cria laços sentimentais, espirituais. Talvez, por estas razões, se faça a distinção entre o amor de Verão e os outros.