terça-feira, 30 de setembro de 2008

(sem titolo)

Quem diz que minto, mente
O que sinto, não sabe nem sente
O que faço são tudo prosas
Desfeitas e vendidas, foram as rosas.

Essas atingiram no buraco do Cupido
Deixando para traz um rasto sofrido.
Aquilo que está perto
Não seria isso por certo.

Todas as emoções devem ser contadas
Vividas e transformadas
Manter-mo-nos na nossa parte de chão
Para esfriar o comboio da razão.

Tudo o que nos dizem é pensado
Levado pelo comboio,
Virado.
No meio bóio.

domingo, 21 de setembro de 2008

acabou o inicio

Não fraquejes, não vaciles. Imploro-te. Já era tarde para implorar fosse o que fosse. O mal estaria feito, estava feito, não havia como impedi-lo. E uma parte dele continuava a querer que aquilo acontecesse. A parte mais escura, mais cruel, a penumbra. O lobo uivava de ansiedade e prazer.

Se era errado?
Absolutamente, sem qualquer duvida. Mas o amor que nutria por ela era suficiente para que sacrifícios fossem feitos.

Ele ainda se lembra de todo. Desde o primeiro dia que a vira. O segundo em que a seguira. Até ao momento em que ela própria se apaixonara por ele. Também de outra forma não se poderia ter passado. Tudo o que ele fez era para que acontecesse desse modo. Ele não era de todo desprezível. Bonito, simpático e bem formado. Tinha uma profissão respeitável. Não era de todo difícil, ela apaixonar-se por ele.

Foi essa a sua maldição.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Divagar

De onde veio Deus?
Já sabemos como surgiu o universo. Sabemos que o tempo e o espaço surgiram nesse instante. E quando surgiu Deus? Sabemos quando surgiu a água na Terra, sabemos quando surgiram os primeiros organelos, as primeiras células, as primeiras bactérias, os primeiros seres vivos. E como surgiu Deus? Não sei, nem vou tentar explicar como surgiram todas as coisas que referi anteriormente. Mas há alguém que saiba e que tenha explicado esses acontecimentos. Além de os situarem no tempo. E o aparecimento de Deus? Alguém sabe? Alguém já explicou?
Podemos falar de todas as religiões que falam da existência de Deus, mas alguém, alguma delas, alguma das entidades que as representam já falou do aparecimento de Deus? Será que Deus morre? Será que Deus nasceu há muitos anos. Será que Jesus (filho de Deus) um dia ocupará o lugar do pai? Mas se assim for, que é o avô de Jesus? Haverá toda uma linhagem de Deuses? Mas ai haveria mais que um, então os romanos, gregos e egípcios é que tinham razão. Para não falar de todas as outras civilizações anteriores como os Maias. Então mas Deus criou o mundo. Assim foi ele que fez acontecer o big-bang. Mas antes disso não haveria espaço nem tempo. Não para nós. Também para nós houve muito tempo em que não houve tempo nem espaço. Se a evolução da Terra correspondesse a um ano, o Homem só teria aparecido a um minuto para a meia-noite do dia 31 de Dezembro.

domingo, 14 de setembro de 2008

da caca aos livros

Quem é que não se arrepiou numa casa-de-banho? – Pensou ele enquanto passava outra noitada no sítio de costume. A casa de banho era pequena e sem nenhum traço particular: tinha um pequeno espelho, paredes brancas, com ajuleijo até à cintura. O tecto também era branco, mas o chão estava empatulhado de tapetes e por cima destes encontravam-se os livros que ele já lera quando lá passava as noites. Definitivamente tinha de se ir embora, embora lhe custasse um pouco.
Talvez não fosse da comida. Talvez fosse um efeito secundário da experiência. Isto de ser um voluntário pago acarreta os seus riscos. Talvez esteja só nervoso. Tenho de beber mais água. Não posso desidratar. Não posso influenciar os resultados.
Como, para ele, era difícil viver naquela grande e pequena cidade. Eram tão grandes os edifícios e tão pequenas as pessoas. Não chegou a perceber isso. Tinha as luzes de todas as cidades famosas, apesar de nunca ter ouvido falar. Mas haviam muitas cidades famosas que ele nunca ouvira falar, esta seria só mais uma. Ele era um rapaz pacato, sem ocupação aparente, a não ser ler. Lia muito e tudo. Lia revistas para mulheres e para homens. Lia banda desenhada e livros universitários. Passava a vida na livraria da sua mãe, porque não tinha mais nada para fazer. E não tinha uma rapariga com quem se entreter. Ele não as via assim. Para ele, elas eram objectivos. E os objectivos eram como as estrelas (já dissera sir. Makewater) estava a milhões de milhas de distância. Mas era bom ele ter objectivos.
Começou a ler porque viu, uma vez, na televisão do seu quarto, que se encontra por cima da consola favorita e ao lado da que é menos usada, num intervalo, que ler fazia cumprir os objectivos e ter uma vida melhor. Era uma das campanhas de um qualquer governo que pretendia que os seus habitantes lessem mais.
Mesmo com tanta leitura, ele nunca se deixou literecer. Achava as coisas que lia uma seca. Mas as capas dos livros eram bonitas e gostava do fim. A mãe, uma vez, pusera-o de castigo por saltar páginas dum livro sobre astrofísica. Disse, e ele nunca esquecera estas palavras: “ é assassinar um livro, é como se libertasses um pássaro, mas deixasses sempre uma parte dele na escuridão da gaiola. O livro precisa de ser lido para nascer. O livro não nasce no autor mas no leitor. Um livro é aquilo que o autor pensa e viveu divulgado ao mundo. Quem o escreve quer que assim seja. Não cometas o pecado de ler só uma parte do livro. Se não fores capaz de ler o livro todo, não és merecedor do seu final.” A mãe dele disse isto com a calma que sempre a acompanhara, quase com se estivesse a contar uma história de embalar, mas entrara na parte decisiva e precisou de usar uma entoação mais forte. Ele decorou estas frases como provérbios. Foi a única coisa que aprendeu.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Momentos

Porra páh!
Que cena.
Tinha de acontecer logo agora?
Agora que eu tinha alcançado a serenidade necessária para dormir. Há três dias que não durmo. Melhor há três noites. A situação é a mesma. Não durmo nem há três dias nem há três noites. Mas não é altura para humores, a situação é desesperante!

Tudo no acontecimento parece mais do que errado. Mas o que é que é mais do que errado? Deixa-te de questões filosóficas, a situação é grave, até parece que estas a brincar com tudo isto. Mas lá que parece errado parece. A situação, as pessoas, a ocasião, os olhares e tudo. Mas deve ser impressão minha. Só pode. Nada consegue ser tão errado. Nada excepto nos livros. Pois, e nós estamos num livro. Num livro aberto há muito tempo e que ainda não foi lido, um livro que se confunde com a nossa própria realidade. É a nossa realidade, já que somos personagens do livro. É o nosso mundo. O nosso universo. É o objecto de estudo por parte dos cientistas.

Agora cá estou eu outra vez e novamente na mesma rotina que se repete todos os dias. Não o agora de há pouco, mas o agora de agora. É o segundo, e até esse já passou. Até os agoras são fugazes. No sitio onde me encontro, já por muitas vezes me encontrei. E voltarei a ir lá encontrar. Muitos agoras se repetirão, apesar da minha contrária vontade.

domingo, 7 de setembro de 2008

A rotina do pensamento

Conjecturar é, sempre, fácil. Principalmente quando mantemos as conjecturas para nós. Ainda mais se essas conjecturas conjecturarem uma situação inconjecturável.

Era o primeiro dia do resto da vida dele. Ele pensava sempre isso. Todos os dias de manhã ao fazer a barba, ao lavar os dentes, ao tomar o pequeno-almoço. Sentia-se bem ao pensar dessa forma. Ao tentar mudar a rotina sufocante em que se tinha envolvido, como um colete-de-forças que prende um maluco involuntariamente,
Ao sair de casa, depois de entrar no carro e sair da garagem deixava de o pensar. Invadia-o o mesmo sentimento de impaciência, revolta, irritação. Aquele trânsito era, e seria sempre, insuportável. Mesmo assim ligava o rádio a altos berros, depois de ter soltado uns valentes palavrões ao condutor da frente para se acalmar, e sorria. Cantarolava. E sorria.
Até chegar ao emprego era assim, e sempre seria. Ao chegar ao trabalho, porque emprego é uma ocupação que não nos exige esforço ou sacrifício de qualquer espécie, já o trabalho é outra história, ouvia os mesmos berros do patrão, a mesma angustia que via todos os dias voltavam aos rostos dos seus colegas.
O resto da minha vida será como este dia. Acabava por dizer ele, entre dentes, suspirando por melhor sorte no dia seguinte. Já descrente, adormecia.
Era o primeiro dia do resto da vida dele.