quarta-feira, 3 de novembro de 2010

liberdade

Largar o que a mama levou à perna, quer agora imitar o seu bom pai.


Porque é que não foste embora? Porque é que não te abandono? Porque é que sempre que ouço o teu nome pelas ruas é o meu coração quem responde?

Sinto que nada passou. No entanto somos pessoas diferentes. Mesmo partindo do mesmo ponto, não há ponto por onde se lhe pegue. E por isso é que queria desistir. Deixar para trás todos os argutos mal dizeres que me impelem em seguir-te e libertar-me. Sabes, é o que todos procuramos. A liberdade. Por muito estranho que pareça essa liberdade depende de outros, cada um tem o seu outro, mas no final estamos todos envolvidos numa teia impregnada de dependências. Não que cada um de nós não fosse capaz de dar liberdade, eu próprio o faria, vezes sem conta se assim fosse necessário, apenas não o conseguimos fazer àqueles que realmente precisam dessa liberdade, não conseguimos atribuir a liberdade a quem nos pede por ela. Fechamos os olhos, medo invasor da nossa face, dando o prémio a um qualquer outro desmerecedor.

Gostava de saber cantar. A sério. Gostava, aliás, que qualquer que fosse a arte, uma aleatoriamente escolhida pela roda do euromilhões ou apenas a mais fácil de aprender, eu realmente conseguisse libertar-me nela. Deixar esta nuvem que se tende a disfarçar com tinta azul claro e um pouco de nevoeiro para preencher a alma de esperança.

No final das contas, quando passamos tudo por revista e tiramos conclusões, acabamos sempre por achar que não valia a pena ter arriscado. Afinal era tudo evitado, apenas precisava de não ter tido qualquer tipo de ousadia. Se não a tivesse não traria tão efémero e pesado peso.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

ditados de alma

A vida não vai parar, vai com o vento.


“A vida não parou. Não parou nunca. Seguiu o seu caminho sem nos dar satisfações. Não as devia, a não ser por simpatia, mas não as prestou. Passou-nos ao lado. A mim e a ti. A ti por estares a meu lado, por veres a meu lado, não viveste por estares a meu lado. Devias ter vivido, devias ter sentido a vida passar perto e levar-te como o vento leva a folha solta e morta que é viva nesse momento. Mas tu não viveste por pensares que comigo irias um dia encontrar a vida mais à frente. Mas à frente não estava a vida. Estávamos os dois. Apenas. Essa solidão de vida, deixou a não vida, o estado do submundo da vida, a pairar sobre nós. Intoxicou o nós, tivemos de sair de nós, e saímos por portas diferentes. Não olhei para trás, não pensei se quer nisso.

Pensei na vida, na que não te deixei viver, por não me deixar viver. Sem ti não viveria, mas tu não viveste comigo. Só pensei em emergir, em respirar o ar da vida, em sentir o sol da vida, a chuva da vida. Não olhei para trás, não quis ver se vinhas comigo, se procuravas com o mesmo desafogo o ar que não tinha, o sentido que já não tinha.

Tenho a vida, imparável, mil milhas à minha frente, talvez nunca a apanhe. Não a vou ver olhar para mim, assim como não te vou ver olhar para mim como olhavas. Não que queira que voltes a olhar. Não te sinto em mim para que me olhes como olhavas. Só me farias querer voltar, e voltar já não posso. Já não podemos e não vamos.

Quero que emirjas também. Tu és leve, não tens o peso de não deixar viver nas costas para o arrastar. Quiçá a vida espera por ti, para te levar com ela e com ela seres feliz.”


Assim foi a despedida dele. Não lhe disse tudo isto, como poderia ter a coragem para o fazer. Ela interromperia o discurso e deixaria-o desarmado perante a mais que razoável razão que possui do seu lado da vida. Apesar disso, sentiu-o. Sentiu isto todos os dias que se seguiram e assim foi como se o tivesse dito. Porque sempre sentiu o que lhe disse e disse o que sentiu. Esta foi apenas a excepção que confirmou a regra.

terça-feira, 13 de julho de 2010

dossier de livros de folhas soltas

“ Eu já sei a verdade, apenas preciso de a ouvir da tua boca”


“Não consigo, desculpa, não te quero sujeitar a isso”


Realmente não conseguia. Queria mas não conseguia. Queria tanto como queremos quando empurramos uma estante cheia de livros à espera que ela se mova. Mas ela não se move e ele não conseguia, não consegue. As razões são as mais variadas. Podem ser escritas num dossier de livros de folhas soltas por não terem qualquer ligação para construir um enredo. De qualquer forma, sabe-as de cor, são dele. Serão? Será apenas a cabeça que exclui tudo o que já viu e leu na estante de livros e apenas não quer porque é uma maçada, ou serão os livros que estão na estante desadequados para a missão que se pretende incumbir nele mesmo.


As folhas nas quais escreveu as suas razões nem estão agrupadas por capítulos, separadores ou qualquer outro tipo de cor. São apenas linhas nem rectas nem curvas de pensamento que, sendo aleatório, levam à mesma conclusão, sempre.

As coisas saídas da boca têm outro valor do que aquelas apenas percepcionadas pelas situações em geral... assim pensavam eles. E pensam. Da boca sai aquilo de que estamos convencidos. Aquilo sobre o qual pensamos, despensamos e voltamos a construir o pensamento. Principalmente estas verdades, que são verdades, e por verdades serem, doem, e doem a valer. Porque dói o mundo, e doemos nós com o mundo, sempre que a verdade se divulga a flutuar no mar de mentiras e omissões que por nós passa todos os dias.


A verdade seriam acordes bonitos, os mais bonitos, se gostássemos de os ouvir. Sairiam da boca e não de guitarras ou flautas. Iluminariam o mundo. Limpariam-no. E seria apenas a verdade e nós todos, partilhando o verde das árvores e o escuro da noite. Não precisaríamos de candeeiros, luzes de presença ou outras que tais. Mas precisamos. Precisamos de tudo o que nos tire da nossa eterna solidão. Nunca, verdadeiramente, acompanhamos ou somos acompanhados. Nunca partilhamos experiências, pois a minha será sempre recordada de forma diferente da tua.


E ele não pode deixar que palavras, simples e inofensivas, se tornem uma arma letal que firam o seu âmago para sempre. Não agora.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

noventa graus


Noventa graus

Quando queres mudar o caminho

Quando sentes que estás sozinho

Ou porventura quando queres

Ou se procuras mulheres.


Sobe degraus

Na escala geométrica

Porque rimas são questões de métrica

E a tua e a minha

Anda, caminha!


Eras melhor com escudo e paus

Eras melhor sem latas de conserva

Eras melhor sem essa erva

Eras melhor com carapaus

Contorna a esquina

Noventa graus!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

é a festa do mundial

navegadores,


está na hora. esta é a altura. descubram-se, deixem-nos descobrir-mo-vos. acreditamos, façam-nos acreditar mais. aos que não acreditam, mostrem do que são capazes. calem os velhos do restelo. quem tem medo fica em casa, disseram. vocês foram para longe, não ha volta a dar, não há medo que venha atrapalhar.

não precisamos de grandes lances de futebol espetacular. não precisamos de lindos golos para mais tarde recordar. precisamos de vontade e suor, precisamos que não deixem o adversário ser melhor! precisamos que corram com a vontade nossa e vossa de correr. porque as vezes queríamos chutar e frustramo-nos por não poder, mas vocês podem. chutem quando pensarem em chutar e quando sentirem que pensamos nós, portugueses, em chutar.


este é o mundial para serem felizes!! é o mundial para sermos felizes!! e nós precisamos pouco para sermos felizes. cantem o hino com a garra que querem e devem demonstrar em campo. façam-se, nesse canto, ouvir mais alto que as vuvuzelas e chegaremos tão longe quanto as nossas vozes e vontades.


era giro que fosse a ideia de toda uma nação, que a selecção sentisse este apoio. vamos ver

domingo, 23 de maio de 2010

mundo

Hoje quero olhar o mundo. Abro a janela. Puxo a persiana apenas dez centímetros. Nesse espaço olho o mundo. Vejo o mundo daqui. Olho para longe para o ver. Longe. Muito longe. Mas consigo olha-lo. Reparo como cresceu desde a última vez que o vi. Está mais forte. Mais espadaúdo o mundo. Se não soubesse que era ele talvez não o reconhecesse. Talvez não reconhecesse o preto sobre o azul do mar. Um mar preto. Talvez não reconhecesse as novas aves que sobrevoam o céu. O céu que já não é bem azul, mas cinzento. Dessa até esperava, as pessoas envelhecem. Criam cabelos brancos. Caem esses cabelos brancos. Se calhar foi por isso que choveu o que choveu estes últimos meses. Está o mundo a ficar velho. Ou estará constipado. Talvez tenha alergia. Alegria.


O mundo é contra nós. Nós somos contra o mundo. Vivemos neste impasse. Fazemos o mundo velho à medida que ficamos mais velhos. Os mais novos já pegam, posteriormente, um mundo mais velho, menos disponibilidade têm para o envelhecer. Mas envelhecem. Envelhecemos todos. Nós não duramos para sempre. Dura o mundo para sempre.


Não é preciso preocupações extremas perante algo que nem conhecemos bem. Conhecemos o mundo. Se calhar não. Olhamos num raio à nossa volta. Deixamos os raios das voltas dos outros. E não vemos nada. Não olhamos nada. Não somos nada com ninguém, porque ninguém é nada connosco.


Substituímos tudo por nós sem pensar. Caçamos aves, comemos aves. Reaproveitamos a energia. Mas aproveitamos o seu canto. O seu encanto. Com chumbo. Com vapores que curam asma e que saem de carros e cigarros. Cortamos arvores, fazemos cadeiras. Gostamos mais da cadeira do que da arvore. Mas se um pombo reclama a sua madeira como sitio para se aliviar, está o mundo contra nós, nós que nem estávamos contra o mundo.


Introduzimos novas formas de mundo. Novo mundo no mundo. Para que quer o mundo um braço novo, uma nova perna, uns óculos. O mundo estaria de perfeita saúde se não andássemos nós contra o mundo. Como pode o mundo agradecer os parcos remendos que nele usamos para recompor aquilo que à muito estragámos?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

linhas descruzadas

Nada tenho de fazer,

Apenas dedos mexer

Para te encontrar.

Mas será que o dia virá

Talvez o sol me dirá

Em que te possa beijar.



Mando-te emails

Mandas-me emails

Gostamos um do outro

A internet no ar.


Fazes-me rir

Fazes-me desejar

O dia de parar

De te ver só a sonhar...



Embora tenha a certeza

És a minha princesa

Somos ambos tmn

Estou cansado de esperar

Quero-te encontrar

Fora do msn!


letra adulterada da canção: "linhas cruzadas"- virgem suta

sábado, 8 de maio de 2010

não era a mesma coisa

Chove lá fora. Sorte a minha por estar acomodado entre quatro paredes, um tecto, uma cama, uns lençóis. Nada disto é meu, nada me pertence realmente. Escrevo, hoje, num computador emprestado. Até as palavras são emprestadas por alguém que nos ensinou a dize-las, primeiro, depois a escrever á mão aquilo que sentíamos com o peito. Sabia que um dia quereria estar assim, deitado, com expectativa nenhuma que me chamem. Que façam-me notar que o mundo sabe que aqui estou. Que sabe que existo para ele.
Neste momento não existo para ninguém. Existo para mim. É duro. Muito duro. É difícil existirmos apenas connosco. Vivermos apenas com a mesma pessoa que se vê ao espelho ao acordar. A mesma pessoa que se levanta todos os dias de mau humor. É duro estarmos sozinhos, porque sozinhos temos mais tempo para nos reconhecermos, para vermos as falhas, as manchas e todos outros defeitos que tem a nossa mente e corpo. As pessoas são infelizes porque não conseguem habitar sozinhas consigo. Então procuram alguém que consiga e tentam aprender a conseguir. É o meu caso. Não me dou bem comigo. Somos os dois uns resmungões que acordam mal dispostos todos os dias. E todos os dias é a mesma coisa. Qual é o interesse do mundo que não seja conhecer outras pessoas, realidades, situações, problemas. Conhecer o mundo para aprender, apreender com ele.
Contudo, neste momento, o meu mundo é o quarto que aluguei em Lisboa. Um quarto razoável que me deixa isolado de todo o mundo que me trata por tu. Todo aquele espaço que me conhece de uma ponta à outra. Cada canto ou esquina, cada espaço na prateleira. Esse mundo fica muito longe de onde estou agora. Não me sinto propriamente mal por isso. São as experiências que crescemos a pedir. A rezar para que aconteçam. Independência, liberdade.
Porque é que escrevo tudo isto. Quando me ensinaram a escrever não disseram que poderia por toda a minha alma em zeros e uns que seriam guardados para sempre um espaço que não podemos tocar com os dedos. No entanto, a minha alma, os meus pensamentos mais profundos estão lá depositados. Qual banco na Suíça. Não sei bem porque escrevo tudo isto. Não sei porque a ordem pela qual escrevo é a que acima se apresenta, não sei porque usei agora uma vírgula em vez do ponto final que me vinha na cabeça. Acontece, e se acontece assim, porque deveria acontecer de outra maneira?
Bem, na opinião do sócio, um gajo que escreve para a revista da faculdade uns textos bem bacanos, esse é o problema da sociedade pós-moderna. Somos modernos, somos grandes, os maiores. E agora? E depois? Porque não ficar na cama enquanto chove lá fora? É o que estou a fazer. Se podia estar a fazer uma coisa muito mais útil? Podia, mas não era a mesma coisa.

domingo, 18 de abril de 2010

por razão nenhuma

No calor, quente, da paixão cega, sente-se desconfortável e afasta-se. Não tem de haver um propósito para tudo. No entanto, é-lhe perguntado se lhe falharam. As pessoas não se conhecem e, por isso, evitam conhecer os outros. Às vezes estamos tristes porque sim, outras porque não. Quase sempre nos envolvemos em razões, porém, na tristeza mais profunda, a busca da razão é abandonada. Livres de tal demanda, enchemos o peito de ar e somos tristes com a tristeza do nosso lado.


Por razão nenhuma.


Não me agrada usar frases de outras pessoas. Sério. Mas a verdade é que a frase, entre aspas, de um nick do msn chamou a minha atenção: “ que importa o que serei, quero é viver”.

Isto dito por alguém em medicina é um contra-senso. Ou nem tanto. Não é dito que quer ser feliz. Essa motivação é explícita em cada momento da vida. O que é a vida? Bem, isso são perguntas que não me ocupam a cabeça, e a busca por suas respostas à muito abandonada. O que é certo é que existem vários graus de vivência, muito embora não se possa definir a vida como algo com patamares. A verdade é que podemos comparar o quanto vive uma e outra pessoa. Podemos dizer que vivemos mais que o nosso vizinho, ou menos.

Gostava de um dia poder viver. Um dia. Apenas. Viver esse dia como se a vida se contivesse todo nele. E eu, junto com ela, absorvesse o dia todo. Apenas esse e não o próximo. Como se o fim fosse o fim do dia. E todos os dias uma nova vida a ser aproveitada, absorvida. Como se eu fosse e não voltasse. Mas voltava, de manhã, para uma nova vida, sem qualquer expectativa. Apenas eu, a vida a meu lado, e tudo o que vem com ela. Bem sei que existe uma multidão junta com a vida. Juntar-me-ia a essa multidão. Para isso bastaria conhecer apenas um dos seus elementos. Comungar com ele um interesse, um gosto, um passado. Mas o passado não existe. Porque ao fim do dia, acontece o fim, e depois do fim o inicio. Seria apenas isso que comungaria com toda a multidão da vida. Porque com a vida vem quem vive. Quem não vive fica, vendo a vida a passar.

A vida não pára. Nem chuva nem vento a faz parar. Ainda assim. Todos os dias passa à minha porta. E todos os dias me convida para entrar. Todos os dias desligo o despertador e volto a dormir.

Quem segue a vida gosta tanto de ser feliz como gosta de ser triste. Abraça as duas como irmãs. Companheiras de jornada. Seguem com a vida, e com a vida permanecem. E por isso é que se desvanecem em nós. Se seguíssemos com a vida, seríamos tristes e felizes ao mesmo tempo. Choraríamos a sorrir. E no fim do dia, esquecendo a vida, fim.

Não nos é possível viver sem expectativas. Porque são elas, juntamente com as memórias que nos definem. Sem isto, sem nós em nós mesmos, não aprenderíamos nada neste mundo (e não digo que haja outro, isso é para cada um, embora as minhas crenças sejam conhecidas). De que nos serve a vida, se, sem memórias para a recordar, ou a expectativa de a voltar a abraçar, vivêssemos cada dia num único?

É tão fácil partir, dizer que não podemos, não conseguimos. E por isso sermos infelizes. Difícil é ser infeliz a tentar. Continuar infeliz depois. Mas ao outro diz abraçar a infelicidade como parte da vida. A vida não é uma piza onde se escolhem ingredientes. Ou queremos a vida, ou não a queremos. No fim, mas mesmo lá no fim, acabamos todos felizes.

Fim.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

4:10

Fecho os olhos e arrepio-me. São três e meia da manhã. Acordado num quarto em lisboa, escrevo, hoje, sobre a minha vida. O que ela foi, o que tem sido, e o que eu espero que seja no futuro próximo. Não tem muito para falar, admito, mas como sou eu a escrever e não existe nenhum editor das mensagens que ponho no blog, não venho porque não.

Neste momento tenho em mim a canção de lisboa a suar-me nos ouvidos. Não é mau, mas dói-me a cabeça e não me apetece muito ter de aturar isto. Por isso pus o media player a tocar um qualquer cd que já não ouvia há uns tempos. Fala de desgostos de amor. Nem sobre isso a minha vida da que falar. E ainda bem!

Pena estarmos longe. Pena que não te possa tocar, que não te possa dizer, cara a cara, aquilo que quero dizer sempre que penso em ti e me vêm as lágrimas aos olhos por tu não estares. Queria tanto que estivesses. Queria tanto estar onde tu estas. Caminhar sob os teus passos, sentir o teu cheiro no ar. Saber que existe a cada momento comigo. Fazer durar a nossa musica para sempre. Queria não ter de escrever no blog porque teria algo melhor para fazer, porque estaria em boa companhia. Mas estou sozinho, num quarto que não é meu, um cheiro que não é o teu.

Estou cansado de me ouvir apenas a mim a reclamar, dentro de mim, por não ter estudado o suficiente para que estivéssemos, hoje, lado a lado. Lembro-me de, na altura, achar que até seria bom ficarmos longe um do outro, não tão longe, mas uma certa distancia providenciaria a liberdade suficiente para a vivencia académica. Não suporto a tua ausência. as minhas lagrimas são pedaços da minha alma que se cansam de estar sozinhos e vão ao teu encontro. Eu imploro para que me levem, mas nunca me ouvem.

Disse que falaria da minha vida, não costumo, mas a minha vida és tu e a faculdade, a medicina. Mais tu que a medicina. Não quero ser médico, na realidade nunca quis. Nunca quis que vidas de pessoas dependessem do meu desempenho profissional, constantemente. Não estou preparado para isso. Não consigo ser o profissional que as pessoas necessitarão. não conseguirei. Não é facil moldar uma personalidade, principalmente depois de formada. E a minha cá está. Firme e hirta, que nem barra de ferro. E não me deixa. Não me deixa estudar a anatomia, não me deixa fazer o que preciso de fazer para ser um bom profissional. Eu sou razoavel em algumas coisas, mas nunca fui bom a dar más noticias, nunca fui sensivel nessas coisas. Não sei lidar com a doença das pessoas, não sei responder empaticamente. Não consigo pensar que uma pessoa morrerá apenas porque eu fiz uma coisa mal. Não serei capaz de o aceitar.

Um dia sonhei ser investigador. A palavra é mais apelativa que a realidade dos factos. Trabalhar um cubiculo com ratos brancos de pernas para o ar o dia todo. A medir valores, observar variações, chegar ao fim do dia, assinar a folha do relatorio e vir embora. e no dia seguinte será igual. Por isso, também não vai ser por ai que me vou resolver. O problema é que não me aceitaram se não me resolver. Não posso chegar a casa e simplesmente dizer que quero desistir do curso e pronto. Feito, dinheiro para o ar, para ver se nasce. Para não falar que ocupei um lugar que outra pessoa quereria. Uma pessoa muito melhor que eu. Muito mais capaz e profissional.

Não sei o que fazer de mim sem ti, verdade. Então procuro-te, todos os dias, em colegas, amigas e amigos, com esperança da tua orientação. Verdade que a carne é fraca, verdade que os homens ficam tolos com rabos de saia, e também, mas não há futura médica que seja melhor que tu, não há pessoa que conheço que seja melhor que tu. Apenas a distancia, apenas a impossibilidade de te beijar quando preciso me faz pensar na tentação. Mas, enquanto chorar quando penso em ti, não haverá tentação suficiente para mim. Espero. Espero, também, que não te chateies se algum dia leres isto. É a verdade meu amor. Mas és tu o meu amor. E enquanto o meu coração, o a metafora que achares mais conveniente, bater, esmagar, cantar, badalar, tocar, trinar, beber, comer, dormir, escrever, ver, ouvir, olhar, sentir, tudo por ti... não haverá nada a fazer enquanto isso.

Porque eu estou contigo. E espero que estejas comigo, e com Deus.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

amor fatal

Look how they shine for you.


Esta história, esta magnífica história é uma triste história.


Tudo começou num dia que não sei especificar. Eles olharam-se, um cumprimentando o outro. Um deles ostentava um daqueles convites óbvios, sedução pura. Para quem olha de fora é desprezível, mas para eles foi o começo de uma linda história de amor impossível.


Comecemos, então, por apresentar as personagens. Ele era um rapaz igual aos outros, vestia calças e t-shirt com desenhos. Sapatilhas e meias até aos calcanhares. Andava na escola, tinha apenas uns pelitos na cara: motivo para se orgulhar ao espelho. Vivia com a mãe e o irmão. Ambos mais velhos. O irmão uns trinta anos e a mãe apenas dois meses. Sim, é estranho, mas foi assim que me contaram, assim contarei. Reflexões (?), deixarei para quem as souber fazer. Eram abonados mais ou menos, o certo é dizer que não eram abonados de todo. Como sempre acontece nestes casos, viviam de forma humilde e cabeça erguida perante os ventos e chuvas que lhe levavam a casa sempre. Faziam outra. Esta introdução serve apenas para enfatizar os sacrifícios mais à frente explicados.

O outro personagem, tomo, eu, a liberdade de o chamar assim, não é homem. Nem mulher. É, sim, um destruidor de lares, de vidas. Uma quimera que engana até a mente mais desperta. Ostentava a melhor publicidade de todas: o uso dos amigos, a moda. Complicado lutar contra o coração, mais ainda com a pressão dos amigos. Podemos dizer, então, que pouca escolha teve o primeiro personagem nos acontecimentos que se desenrolaram. Este personagem é um prestador de serviços, por isso paga-se para que o serviço seja prestado.


O amor, por assim dizer, começou no momento em que foram apresentados. E desde que o olhar do moço ingénuo pousou naquela coisa, nunca mais a sua cabeça pensou noutra coisa. Foi um desastre atrás do outro a partir daí. Foi um ciclo vicioso que ninguém viu começar, ninguém se importou, ninguém disse nada, e quando quiseram, tarde de mais.

O dinheiro que tinha, pouco, era para alimentar o amor. Era o seu único interesse, como são todos os amores, entre os apaixonados. Não posso dizer que o prestador de serviços não sentisse o mesmo amor. Não é verdade. Ele dava-se em cada encontro. Extinguia-se para alimentar o amor, sacrificava-se.


Porém, de outra forma não estaria a ser completamente sincero, não posso argumentar que um maço de tabaco tem, porventura, sentimentos. É demasiado filosófico, demasiado fantasioso.

O início do amor platónico já foi contado, o meio não tem grande interesse. Os cigarros morriam, um a um, e o sacrifício deles parecia aumentar cada vez mais o amor que ele sentia por eles. Eram a prova que todos os apaixonados precisam, todos os dias, de que são correspondidos. Era a água que regava a tal planta que é o amor. E por isso, através dos cigarros, o sujeito vivia, respirava, dormia.

O fim deste grande amor é digno da banda sonora mais melancólica que cada um encontrar (para mim a Ave Maria de Giulio Caccini).

Como todos os amores, este modificou as partes, uma mais que outra. Ao sujeito, alargou a laringe, aumentando o espaço da glote, ficando com uma voz mais radiofónica. A nicotina amarelou-lhe as mãos, o fumo escureceu os pulmões. Deu-se, assim, também ele, pouco a pouco, num ritual sem fim, de dar sem receber, ambos, um a um e peça por peça. Platónico disse eu há pouco, platónico sim. O sujeito, ele, ficou sem a possibilidade de voltar a construir a casa sempre que ela se ia. Sem casa, sem dinheiro para a comida, apenas para o amor. Nem o ideal de amor e uma cabana se poderia concretizar. Não concebo, não consigo conceber, amor mais platónico.



Até que chegou o dia que o amor trouxe as consequências. As previstas e as não previstas. Há sempre algo que podemos prever em cada decisão que tomamos, todavia, por mais espertos, mais inteligentes, quiçá videntes, a maior parte delas escapam-nos.

Um homem, por si só, não é de ferro. Então, houve o dia que teve, ele, de ir ao médico.

Como é óbvio, o teor da conversa não sei, sei apenas que a ordem foi para que o amor parasse. Foi para que arranjasse outro amor, um mais saudável para a mente e o corpo. O médico ordenou que deixasse os cigarros viver. Estranho uma decisão de cariz tão humanitário ter sido tão depressa recusada, vivamente por ele. Bem, não tão vivamente como outra pessoa conseguiria, mas o mais vivamente que ele conseguiu. Talvez os argumentos utilizados pelo médico não tivessem sido os melhores face à situação, não faço ideia.

O que ele me disse, antes de amar pela última vez, aqui, na esperança que noutro sítio fosse mais bem compreendido, foi que se não podia amar para que continuasse a viver, preferia morrer apaixonado, enamorado. Podem considerar irónico, mas ele disse que o amor dele era muito mais forte que qualquer outro, que fora de metáforas, os cigarros teriam sempre um espaço dentro de si. Literalmente, pelo cancro de pulmão esquerdo, bem perto do coração. Disse também, que, nem que quisesse, nunca o conseguiria fazer com qualquer namorada que tivesse, pelo que o amor que sentisse em qualquer altura nunca se iria materializar como o dele.

Penso que tem razão. Penso também que se o amor fosse um órgão, um membro, umas células alteradas, aliás, se as alterações que o amor nos traz, as suas emoções, as suas loucuras, se traduzissem num sinal, um daqueles que todos poderiam ver e dizer: olha aquele está apaixonado, não teria a mesma piada.


O amor é a demonstração que cada um de nós faz para o libertar ao mundo.

sábado, 3 de abril de 2010

Razão,

“Eu não sei se sou capaz de me ouvir”

Como hoje, e sobretudo amanhã, celebra-se a Páscoa, venho para aqui escrever acerca do Natal. É certo, não sou muito forte na introdução aos assuntos que pretendo expor. Fosse eu o Benfica, naquelas transições feitas de olhos fechados, naquela magica que transborda de seres sobrenaturais, naquelas jogadas desenhadas com um propósito maior, um propósito de arte. Bom, se assim fosse eu, escreveria livros e haveria gente suficientemente abonada para que, em temos de crise, pagasse para ler as ideias de uma pessoa que nem conhece. Não digo que seja mau ler, eu gosto de ler, mas não aquilo que eu escrevo.
Mas o que me traz aqui hoje é uma ligeira satisfação, uma pontinha de orgulho, um quê de renovada nacionalidade. É um facto, provado ou não, certo é que os portugueses deixam tudo para a última, quando não se esquecem. Por isso, a nossa produtividade é maior e, mesmo com a nossa localização geográfica extremamente favorável para trocas comerciais, continuamos na cauda da Europa (não apenas porque a cabeça está virada para a Rússia). Assim, eu e a minha família, mais ela em conjunto que eu sozinho, cooperamos caladamente numa conspiração para deixar a árvore de Natal montada. Duas razões primárias permitem que tal suceda. A primeira é que a árvore é de plástico, e plástico não seca. A segunda desvaneceu nos mais obscuros fossos da minha memória, juntamente com muita da matéria de anatomia.
Já havia reparado neste facto a algum tempo, mas esperava encontrar alguma razão superior, uma razão que me afastasse dos vícios da sociedade incutindo, nalguns leitores ocasionais deste espaço, uma visão de mim completamente errada, mas muito mais abonatória. O que é certo e sabido é que a árvore, teimosamente, devo dizer, continuava ali, por desmontar, sozinha, sem luzes (a parte ecológica e pedagógica do texto), recordando com saudade, não a atenção que lhe deram, mas o novo CD do Tony Carreira que tocou durante as limpezas de preparação para o último Natal. E eu sem razão para a árvore ficar ali tão sossegada, à luz do dia e da noite. Razão inteligente, porque a inércia e ociosidade neste capitulo não conta.
Sempre fomos um povo conformado. Mesmo nos descobrimentos, havia uns velhos do Restelo que não queriam que fossemos, mas conformaram-se com a nossa ida. Bem, para além do conformismo que de mim se apodera, lembro-me bem do dito popular de todos nós, Natal é quando um homem quiser, penso que também se aplique às mulheres, elas lá sabem. E assim, sem mais nem menos, surgiu-me o tal ideal quimérico que tão me apoquentava por me escapar. A busca pelos valores apenas lembrados na época natalícia, ou quando há sismos na Madeira. Aí estava a minha razão, mesmo à minha frente, e por isso é que hoje escrevo aqui. Escrevo porque, para além do sono, às vezes surgem boas coisas na vida de um homem quando nos recostamos num sofá, sabendo que temos anatomia para estudar, mas que não nos apetece. E nisto é que o português é bom: Nas pequenas coisas, já que as grandes há muito que nos fogem.

terça-feira, 30 de março de 2010

Tosco - história de uma quaresma

“Ó meu anjo da guarda, faz-me voltar a sonhar. Faz-me ser astronauta e voar”

Na minha cabeça existe um moço. Um moço muito pacato e reservado. Um pouco diferente da minha pessoa e, como eu também existo na minha cabeça, estávamos os dois na mesma sala, por assim dizer. Eu não sou pessoa de ficar calada, mas ele não se importava de permanecer em silêncio. Deste modo, era um impasse complicado de resolver. Por um lado, não queria ferir susceptibilidades, mas por outro, não é por mal, contudo incomoda-me que estranhos habitem a minha cabeça sem me dar satisfações.
Então, fui-me a ele com toda a força, cheio de coragem, feito forcado, e disparei um olá. Um olá tosco, espelho de mim, mas ainda assim um olá. Mas eu posso parecer parvo fora da minha cabeça, mas dentro dela tomo todas as precauções. Ia preparado para a revolta, a indignação, levava argumentos para sustentar a minha impertinência. Assim, vira-se ele, com aquela cara desconhecida e reponde-me um bruto olá simpático. Ai o maldito! Ficamos amigos nesse dia.
É certo que habitava a minha cabeça, mas podia ter sido mal-educado, com pessoas estranhas nunca se sabe. As pessoas estranhas, no dia-a-dia fora da minha cabeça, metem-me algum receio e enchem-me de reservas. Fico com vergonha. Às vezes nem digo bom dia com medo que não me respondam e que seja ignorado. É difícil suportar o sentimento correspondente ao acto de ignorar, eu diria ignoração mas o Word não aceita. As pessoas passam com tanta pressa que não lhe podemos extrair os motivos que levam a tal ato. Acho, até, que é por causa destes comportamentos que o país não se segura direito. Coitado, também já é velho, mas conheço velhos bem mais velhos e bem mais rijos. O problema de Portugal é que é pouco simpático com as pessoas, e as pessoas deixam de ser simpáticas com ele, e a minha avó sempre me disse que as pessoas más morrem cedo. E pronto.
Olhem, mas fiquei deveras surpreendido com o moço que veio habitar dentro da minha cabeça. Um rapaz simpático. Cheio de reforço positivo para dar. Como só eu moro na minha cabeça, com ele agora, recebo-o todo, e sou muito mais feliz. Gostava de ser mais parecido com ele. Embora esteja sempre vestido com a mesma roupa e nunca o tenha visto a tomar banho. Se calhar a culpa também é minha, a minha cabeça não deve oferecer grandes condições para uma pessoa morar, se não, com tanta gente sem casa, já estaria mais ocupada.
Assim, e por força das circunstancias fiz obras na minha cabeça. Foi um dinheirão! Os empreiteiros não são pessoas muito honestas, comentem eu com o moço, agora meu companheiro. Ele disse que não me preocupasse, que quanto mais dinheiro temos, com menos cabeça ficamos, e que é preferível gastar dinheiro para aumentar o espaço. Assim cabe mais gente.
O problema da minha cabeça, e de muitas imagino eu, para meu sossego, é a sujidade. Não é limpa. Eu não tenho muito tempo, até porque no tempo que tenho, tenho de arrumar o quarto, e nunca conheci uma mulher-a-dias para cabeças em conta. É tudo muito caro hoje em dia. No entanto, e como já não era apenas eu a morar no cubículo a que chamo cabeça, mas que poderia chamar fogão, dediquei-me à limpeza. E o resultado não está nada mal. Na verdade, está muito mais agradável que o meu quarto, só lhe falta a internet.

A quaresma é isto mesmo, é reparamos que não estamos sozinhos, nunca, e que devemos cuidar de nós e dos nossos pensamentos, para que a nossa existência, e a daqueles que connosco interagem seja, todos os dias, um pouco melhor.

terça-feira, 2 de março de 2010

bonança rima com esperança

Depois da tempestade vem a bonança, até entre aqueles que se juraram inimigos eternos.


Pela primeira vez em algum tempo fiquei sem luz. Sem electricidade. Sem televisão, sem rádio, sem luz, mas luz já tinha dito. Vi-me, então, confrontado com algo que estranhamente adormecera no mais profundo vazio da minha alma. O que posso eu fazer quando não há nada para fazer? É superficial, eu sei. Mas, ainda assim, consumiu-me o espírito durante o apagão, mantendo-me ocupado.

Os meus pensamentos estavam ocupados com a pergunta superficial a que decidi ocupar o meu tempo, mas os meus gestos e emoções continuavam apontados para nenhures, um lugar que nem conseguia vislumbrar. A minha mãe aproximou-se e falei com ela. Lembrei-me de como pensava nela, e como ficaria triste por me ver longe durante a semana, tinha a presunção de ser um dos pilares da família, uma das suas peças chaves. Estava profundamente enganado. A família é que constitui o meu grande pilar. Posso ter o maior sucesso, um inimaginável (assim não tenho de dar um exemplo), se não tiver ninguém que fique orgulhoso por mim, ninguém que me congratule, não me servirá de nada. E nesse momento, durante o apagão que a minha aldeia sofreu, fez-se luz na minha alma. Percebi exactamente quais tinham sido as minhas direcções até agora, quais as motivações. Percebi que nada do que fiz ou farei pode ser separado dos meus pais e do meu irmão, dos meus tios e primos, porque eles são a minha vida, fizeram a minha vida, construíram-na, bloco por bloco, escolhendo a receita do cimento, com mais ou menos areia, eles tomaram essas decisões quando eu não as podia tomar. Assim, sem mais nem menos, vi-me liberto na prisão que se tinha transformado a minha casa às escuras.

Libertei-me do peso da responsabilidade, cheio da irresponsabilidade característica da fase que atravesso, não tomando a consciência que um muro pode até ter os alicerces feitos de betão, mas se o sujeitamos a uma guerra fria ele não resiste à pressão da sociedade. Então, passou tudo a depender de mim, como uma corrida de estafetas, que a minha equipa fez no primeiro lugar e agora esperava que eu cortasse a meta para nos podermos sagrar campeões.

Custa-me escrever sobre mim, sabendo que, pelo menos algumas pessoas que me conhecem irão ler o texto. Custa-me escrever quando necessito de o fazer, e hoje necessitei, depois de muitos anos. Anos e anos a escrever por puro gozo de o fazer. Escrever para ver a reacção dos outros perante assuntos improváveis, finais impossíveis ou conclusões estúpidas. Hoje, depois de muitos anos, voltei a escrever de mim.


Encontrei-me no fundo de um poço que era meu, estava no meu jardim,

Não estava lá ninguém comigo,

Senti-me sozinho.

Então neguei o lápis e a caneta,

E escrevi directamente no computador.

Pus nas palavras o meu sofrimento,

E construi com elas a minha escada.

Olhei para trás,

fiz a promessa de não mais voltar,

só para deixar a minha alma satisfeita,

e disse até já ao musgo que constituía o fundo daquele poço.

Até que aconteça outra vez.

O sol brilha mais a quem vive de noite,

Trata-se apenas de outra conclusão estúpida.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

marcha lenta

Do silêncio inesperado, da escuridão imensa, do vazio completo, é mais fácil ver e ser visto.

Até que o da frente parou. Contudo, a pessoa que via a da frente, que era a de trás, obviamente, não interrompeu a marcha. Há quem chame liberdade e há quem chame egoísmo, eu chamo distracção.

A liberdade é isto mesmo, poder decidir sem que outros interfiram na nossa decisão, mas também teria, a pessoa, de respeitar a decisão da outra pessoa parar, e porém, como solução, desviar-se-ia.

O egoísmo, egocentrismo, narcisismo, tudo coisas que dão ao mesmo para este contexto, impede as pessoas de “olhar” à sua volta. Desta forma nunca poderia ter visto a outra pessoa a parar e, com alguma franca probabilidade, ira dar-se um choque.

A distracção, bom, é a distracção usual, provocada por todas as coisas que damos por garantidas: o telemóvel ou mp3. Tudo coisas que nos abstraem do mundo e que nos fazem um perigo para os que nos rodeiam. Com eles, fechamo-nos no mundo nosso com o cuidado de não avisar ninguém que vai condutor embriagado na estrada.

Imagine-mos, agora, que era um precipício, aquilo que se seguia. Com a liberdade morríamos nós, o egoísmo matava a pessoa, assim como a distracção, mas aí éramos salvos por quem esteve atento e parou, porque não ia ao telemóvel.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Façam um favor a voces mesmos e não leiam este texto.

Tempo faz que aqui deixei meu ultimo contributo e um semestre faz desde que entrei para a tão prestigiada Faculdade de Economia da Universidade do Porto, tal como o FAR entrou para Medicina, pobre rapaz, quanta pena tenho dele.

Ai como muda a nossa vida, agora por entre exames e frequências (para os quais devia estar a estudar neste preciso momento) ainda noto mais a diferença, já não se aplica a boa táctica de estudar na véspera, depois dos Simpsons, para os mais leigos, começa as 20:40 na FOX, jamais voltarei a minha escola, até porque entrou em obras e nunca mais será a mesma tal como eu quando de casa saí para aqui me instalar, numa cidade denominada Invicta.

Quão esquisito é não ter a minha mãe para me ir buscar a roupa suja ao quarto (menino betinho que não mexia o cargueiro nem para por a mesa) agora levo sacos de roupa para casa e trago roupa lavada. Como me custa domingo sair de casa em direcção a uma cidade que outrora era a minha eleita para qualquer expedição comercial ou turística de curta duração, não fosse também eu do grande clube da cidade, ao qual pensava também vir a ser assíduo espectador, vá... Fui uma vez.

Ao menos daqui vê-se o mar. Ao longe é certo, mas não tão longe como as derivadas estão do meu saber. Que coisas escrevo quando bebo 2 bebidas energéticas seguidas, devia era ir estudar, epá e não leiam este texto, é só uma forma de eu passar um bocado de tempo e fazer sentir-me melhor, coisa que não está a resultar, talvez seja melhor parar.

Não tive uma ideia melhor, vamos falar de carros, a mais que não seja para encher até porque sei que ninguém se deu ao trabalho de continuar a ler até aqui e se leu, posso pedir ao meu colega blogueiro e futuro medico, para indicar o melhor caminho a seguir, apesar de se alguém ler até aqui o mais provável é que seja ele. Ainda não falei de carros, mas comprei um sistema de som que me consegue fazer deixar de ouvir o pensamento, muito bom para quando me encontro com melancólicos pensamentos de faculdade que levariam à depressão a Tia mais fraca. Sim, porque me encontro na faculdade para poder um dia mais tarde ter um carro que me permita andar muito depressa. Que coisa feia de se dizer, grande objectivo de vida.

No entanto, penso... que mais sei agora do que quando cheguei a faculdade? Pouco mais que alguns valores praxísticos. nem sei se deva falar aqui disso, o melhor mesmo é não, falo antes da minha querida namorada para a qual já aqui escrevi, a mais de meio ano e já lá vai dois anos e mais que meio.

Ah é verdade, fiz 19 anos, tive um sentimento esquisito que estava a ficar velho. por todas a razões acima referidas. Como é que vou acabar este texto, ou conjunto de palavras. Isto não faz sentido nenhum, over

sábado, 9 de janeiro de 2010

de nós para ti

Só haverá uma coisa que nunca te escreverei. O amor. Aquele que sinto por ti. Não por ser pequeno, insignificante. É demasiado grande, é a minha alma toda, mais toda aquela que porventura deixei para trás. Sou eu, e és tu comigo. Somos os dois. E por sermos os dois nesse meu amor por ti, nunca o poderei escrever com os meus dedos sem ter os teus nos meus. Não o posso nunca escrever. Não consigo. Ultrapassa-me, em todas as barreiras que coloquei no caminho. E foste tu que as saltaste, e só tu me podes falar delas, agora. Não consigo. Porque não sou eu no amor, és tu em mim que cria o amor. Não posso ter amor sem te ter a ti. Não posso ter amor, tendo outra pessoa qualquer. Só tu crias o amor, e escolheste o meu corpo para ser o receptáculo desse teu amor. Ele é teu, mas eu tomei a liberdade de o tomar como parte de mim. Peço que me perdoes. Que me perdoes por tirar algo que é teu, de me apoderar da tua criação em mim.
Nunca te poderei falar de amor. Descrever-to. É estupidez falar da criação ao criador. Falar-te-ia de partes quando o conheces todo, de cor. Falar-te-ia de mim, quando não sou eu, mas tu o amor.
Porque o amor não depende de mim, nem nada que faça criará amor. Apenas tu decides onde nascerá o amor, e nas céu em mim.
Escreveram que o amor é a soma de todas as coisa belas, se não o fizeram pensaram em fazer. Mas o amor não é apenas as coisas belas todas juntas, isso daria apenas um monte de coisas que já não são belas. O amor é o mundo contigo. O amor é ver o mundo e tu nele, seja aqui ou no Sudão, Paquistão, e todos esses países onde provavelmente nunca entrarás. E por isso não se vê lá o amor.
Disse que o amor está comigo. Mas não está. Apenas a sua lembrança permanece em mim. Apenas pegadas, vestígios das marcas desse amor. Porque tu o levas, podendo cria-lo em quem quiseres. E nesse medo, medo que voltes sem esse amor, sem essa água que me rega, nesse medo afogo-me. Afogo-me todos os dias que não te vejo.
Por isso, hoje, afogo-me sem ti. Anseio a tua chegada. E com ela a criação do teu amor em mim. Porque o crias sempre de novo. E por isso o amor é sempre uma coisa nova. E por isso nunca te poderei falar desse amor.


(...)