domingo, 16 de agosto de 2009

after hours

Um olho de vidro. Uma pupila dilatada. Um olhar sedento de misericórdia, uma postura militar, fria, nórdica.



Todos temos problemas. Alguns do tamanho do Monte da Graça, outros do tamanho dos Pirenéus. Nem todos os ciclistas têm categoria para participar na Tour. Os obstáculos são do tamanho da nossa capacidade de os ultrapassar.



Era uma vez um homem. Campónio, iletrado, andava de scooter e bebia cerveja e vinho tinto fresco. Trabalha nas obras. Tem uns quantos filhos, muitos, alguns, já maiores, só conhecem o número da conta da qual vem a pensão de alimentos, outros, davam tudo por passar a vida na sua companhia, mas a falta de condições na habitação que dispõe impele a Segurança Social a fazer o seu trabalho.

Trabalha, muito. Mas é burro. O patrão aproveita-se. Vive explorado. Chora quando falam dos filhos e ele se lembra de referir que falta meio-dia em cada quinze dias para ir visitar os filhos, mas que o patrão, para descontar menos para uma futura reforma, afirma faltar uns sete ou oito dias por mês.




Os tempos mudam, a vida passa. As verdades mudam, os homens ficam, a vida passa. Passa a vida , ficam os homens a ver passar a vida.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

sindicato de greve

E lá estava ele. Um estranho naquela terra estranha. Um estrangeiro. Não é fácil ser estrangeiro, ainda por cima naquele país. O país dos resignados, ou conformados, em português do Brasil. Como é óbvio, no país dos resignados, vive toda a gente resignada. Não há uma alma penada que esteja descontente com algum assunto. Isso faz muita confusão a todos os estrangeiros que tentam lá viver, principalmente a este enviado especial de uma central sindical mundial.

Neste país as leis são votadas por unanimidade, os primeiros-ministros saem quando se sentem velhos e pretendem dar lugar aos mais novos.

A democracia foi imposta pelos estados unidos, depois de se descobrir petróleo na zona, os americanos acharam muito injusto para a população o regime ditatorial em que os habitantes resignados viviam.

Como é óbvio, não havia manifestações nem greves, nem queixas ou descontentamento, desta forma não há trabalho para um dirigente sindical. Desta forma entrou de greve. Um dirigente sindical de greve.

Assim, o estrangeiro, acabado de chegar, foi um pioneiro.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

atitude inteligente

Está escuro. Faz sol lá fora. Ouve-se o cantar mudo do poeta. Ouve-se o chilrear profundo da ave de canora.


A profunda reflexão a que me tenho dedicado nas minhas horas de laboração fez-me perceber o quão inútil é reflectir, o quão inútil é escrever e ainda por cima para um blog fraco como este. Ainda se fosse o José Rodrigues dos Santos, o Miguel Sousa Tavares, o Paulo Coelho, o Luís Sepúlveda, a J.K. Rowling, o Dan Brown, etc. Ainda era como o outro: ganha-se dinheiro, alguns, muito dinheiro, admite-se. Agora, eu, um adolescente, que na vez de ir para a praia ganhar bronzeado para a miudagem ver, enfio-me dentro do quarto, computador ligado, ausente no msn, Word aberto, e estou deitado a escrever estas porcarias para meia dúzia de gatos-pingados lerem. Sem qualquer tipo de desrespeito por quem lê, mais por apreço à minha pessoa que aos meus textos. A verdade é que tempo para ir à praia terei quando estiver a chover, porque a praia é linda deserta, porque na areia molhada é mais fácil andar, e porque eu gosto de guarda-chuvas. Agora, trabalho ao pé dos fornos porque está frio.

Tudo isto fez-me pensar no que é realmente inteligente fazer. Com a morte do Raul Solnado, pensei que fosse inteligente fazer humor, mas depois percebi que para isso é preciso trabalhar no duro, e eu prefiro trabalhar no mole, ao sol. Depois apercebi-me da quantidade de viúvas que choravam a morte desse grande homem, maior em metáfora que o Bruno Nogueira, e encontrei a formula para uma vida bem sucedida: ser lésbica. Ser lésbica é a atitude inteligente. Excitam-se mais os homens com as lésbicas, há mais oferta devido à razão entre homens e mulheres ser tão díspar, e haver cada vez mais homossexuais. Por fim, se quiserem ser actrizes, nada melhor que serem lésbicas devido à falta de oferta para esses papéis. Isto para as mulheres, claro. Para os homens, não sei, e quando souber guardarei no íntimo do meu ser para que a concorrência seja escassa.

Por fim deixo-vos com uma frase batida: se não fosse eu, que seria da minha vida.