quarta-feira, 22 de junho de 2011

foi

Era uma vez. Eram duas vezes. Eram três vezes. Foram quatro vezes. A quinta passou. A sexta nem podemos considerar uma tentativa. A sétima, numero das maravilhas, não inspirou qualquer sucesso. Permitam-me criar um "gap" e continuar a descrição a partir da tentativa quarenta e oito. veio, em seguida, a quarenta e nove, por fim a cinquenta. Esta meia centena de nada augurava que quando fosse é que iria ser bom. Outro gap (não uso aspas porque já estamos habituados à palavra) e já estamos na 79, número chato de escrever por extenso. Nada aconteceu. Chegou à centésima e, por fim, com tempo a dever a toda a gente, num ciclo sem fim de dívida porque a generosidade é infinita, cansou-se. Obrigado

velhos

Porque hoje o dia será novo. Um dia novo.


Tudo começa onde nada termina. Impressionante a forma como esses dois fogem um do outro. (não há fome que não dê em fartura). O mesmo posso, talvez, dizer de um qualquer exemplo absurdo que constitua parte de tudo mas que não o represente. Seria inútil.

Até quando dura uma novidade? Quando é que deixamos de começar para simplesmente ser uma qualquer coisa que porventura fora começada? Se de uma profissão falamos, começamos, aprendendo, trabalhamos com habilidade para um dia, quiçá, ensinar. Todavia, este é só o mais simples e concreto dos exemplos.

Um estrangeiro. Desconhecido por todos, indesejado por ainda mais alguns que se fazem passar por turistas. Num qualquer inspirador momento passa um estrangeiro a dizer a minha historia começou… quando deixa de dizer que ainda agora está a começar? Um estrangeiro pode ser o salvador da pátria, ninguém saberá. Ninguém continuará querendo saber. Não há um instituto certificado que certifique salvadores da pátria. É pena. Agora daria jeito a todos os que apenas votaram porque não abdicam de um direito. Aqueles que não se sentiram impelidos a votar. Os que não viram no seu voto um passo. Em frente ou para trás, só para desviar um bocadinho, mas um passo.

Estrangeiros nós. A nossa canção começa quando um pequeno vazio se forma e permite a criação de algo novo. Teremos tempo ilimitado para aprender? Queremos mesmo esticar aquela margem de manobra, usar, depositando a nossa fé, naquelas desculpas de novato. Até quando seremos novatos no nosso próprio mundo. Até onde seremos capazes de ir para deixarmos de ser novatos para nós próprios.

terça-feira, 19 de abril de 2011

gravatas

Nunca palavras ouvidas vãs tiveram tanto significado. Nunca, meros sorrisos ou olhares pudessem mover as montanhas que hoje movem. Montanhas de emoções, certo. Mas, ainda assim, montanhas.


O mais importante na construção de um puzzle, um daqueles desafiantes que no fim não se desmonta mas que se emoldura, o mais importante é o quanto se deseja vê-lo terminado. Um puzzle não é um enigma indecifrável. Não um problema de matemática que nem sabemos o que significa. Um puzzle é um jogo de tentativa erro. Os menos audazes experimentarão todas as peças naquele encaixe, naquela face côncava. Virarão a peça ao contrário se for preciso. Os mais audazes e pacientes procurarão a continuação de uma imagem, de um contorno, uma cor e, ao pegarem na peça, saberão que encontraram a sua peça irmã. Não terão duvidas ao junta-las. Não se perguntarão se ficam bem. Se encaixam. Se uma é o ramo da arvore de outra. Se tudo isso é verdade, não há razões para duvidar.

Um puzzle requer paciência e intuição. Requer um certo tipo de inteligência visual. Uma coisa de ver o todo nas partes. Requer, também, ao juntar as peças, a teimosia necessária para nos convencermos que estamos certos. Da maior parte das vezes estamos. Os dois. Algumas não.

De puzzles sou apenas um falso moralista que nunca tentou sequer fazer um com mais de 99 peças. Mas soubesse a teoria de pessoas como nos puzzles suponho e upa upa.

Mais do que puzzles, a vida é feita de mudanças. Daquilo que se quer mudar. Daquilo que desejamos que nunca mude. Daquilo que mudou sem que nos víssemos nessa mudança. De tudo, sem duvida, devia mudar. Um puzzle é um ser sem qualquer desejo de mudança. Apenas o desejo de que a entropia não se apodere. A vida, porém, entrelaça o seu caminho com a entropia. A entropia, por sua vez, entrelaça-se connosco. Nós, levados na entropia, entrelaçamo-nos.

É uma lei do universo que a entropia é o destino final de todas as coisas.

Se assim for, serás sempre tu o meu destino.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

ano novo

Falar contigo é a mesma coisa que falar com uma criança. Não por seres infantil, mas pela simplicidade que transmites.


Novo ano. Apenas mais uma transição de datas que nos obriga a um esforço metal para acertar correctamente não só no algarismo das unidades, como também no das dezenas da data, o espaço correspondente ao ano em que nos encontramos.

O ano anterior serve sempre de referência para o que aí vem: quer seja bom, quer seja mau. Não devo esperar nada a mais ou a menos que o ano anterior me tenha dado. No entanto, um pouco daquele estúpido optimismo que juntamos às passas e ao espumante nunca sai de moda e, na altura da passagem, houve festa e destreza suficiente para abrir o cinto que os apertara o ano inteiro.

Não podemos alterar o que foi feito. Verdade. Não podemos alterar toda a conjuntura que rodeia o novo ano, muito menos podemos dissipar o óbvio sentimento de pessimismo de alguém que olha o presente e futuro com uma vaga lembrança do passado. E não se chama nostalgia. Chama-se involução e, assim como o timo, todos nós andamos a sofrer uma aos poucos. Temos medo de expandir os horizontes, escondemos as fragilidades em nossas casas e aquilo que sai à rua é uma personagem de uma qualquer novela da TVI.


Nesta altura do discurso, Sócrates arranjaria uma qualquer quimera transportadora de sentido de dever cumprido, moralizadora para o caminho que se avizinha. Eu, consequentemente, não o farei. Aponto apenas a referência a alguém que uma vez me disse: “sê o melhor naquilo que fazes” apenas com o simples reparo de tentarmos ser os melhores naquilo que realmente gostamos de fazer. Não precisa de ser uma actividade em si. Uma profissão. Se sou bom a conseguir um sorriso da cara das pessoas, porque não faze-lo da melhor forma que conseguir e quiçá, ser o melhor.

Várias pessoas melhores tornam um grupo, num grupo melhor. Visto sermos uma nação constituída por pessoas, melhorando, melhoramos o nosso sentimento do país e no final o próprio país. Não vale a pena fugirmos daquilo que nos atormenta, daquilo que não está bem. Vamos faze-lo melhor. Sozinhos não. Mas em conjunto. Sozinhos somos poucos, juntos somos mais que as mães, já que poderemos um dia procriar, se mantivermos um contacto prolongado com indivíduos do sexo oposto.

Vamos ser felizes. Se possível, sendo melhores pessoas a cada dia.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

liberdade

Largar o que a mama levou à perna, quer agora imitar o seu bom pai.


Porque é que não foste embora? Porque é que não te abandono? Porque é que sempre que ouço o teu nome pelas ruas é o meu coração quem responde?

Sinto que nada passou. No entanto somos pessoas diferentes. Mesmo partindo do mesmo ponto, não há ponto por onde se lhe pegue. E por isso é que queria desistir. Deixar para trás todos os argutos mal dizeres que me impelem em seguir-te e libertar-me. Sabes, é o que todos procuramos. A liberdade. Por muito estranho que pareça essa liberdade depende de outros, cada um tem o seu outro, mas no final estamos todos envolvidos numa teia impregnada de dependências. Não que cada um de nós não fosse capaz de dar liberdade, eu próprio o faria, vezes sem conta se assim fosse necessário, apenas não o conseguimos fazer àqueles que realmente precisam dessa liberdade, não conseguimos atribuir a liberdade a quem nos pede por ela. Fechamos os olhos, medo invasor da nossa face, dando o prémio a um qualquer outro desmerecedor.

Gostava de saber cantar. A sério. Gostava, aliás, que qualquer que fosse a arte, uma aleatoriamente escolhida pela roda do euromilhões ou apenas a mais fácil de aprender, eu realmente conseguisse libertar-me nela. Deixar esta nuvem que se tende a disfarçar com tinta azul claro e um pouco de nevoeiro para preencher a alma de esperança.

No final das contas, quando passamos tudo por revista e tiramos conclusões, acabamos sempre por achar que não valia a pena ter arriscado. Afinal era tudo evitado, apenas precisava de não ter tido qualquer tipo de ousadia. Se não a tivesse não traria tão efémero e pesado peso.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

ditados de alma

A vida não vai parar, vai com o vento.


“A vida não parou. Não parou nunca. Seguiu o seu caminho sem nos dar satisfações. Não as devia, a não ser por simpatia, mas não as prestou. Passou-nos ao lado. A mim e a ti. A ti por estares a meu lado, por veres a meu lado, não viveste por estares a meu lado. Devias ter vivido, devias ter sentido a vida passar perto e levar-te como o vento leva a folha solta e morta que é viva nesse momento. Mas tu não viveste por pensares que comigo irias um dia encontrar a vida mais à frente. Mas à frente não estava a vida. Estávamos os dois. Apenas. Essa solidão de vida, deixou a não vida, o estado do submundo da vida, a pairar sobre nós. Intoxicou o nós, tivemos de sair de nós, e saímos por portas diferentes. Não olhei para trás, não pensei se quer nisso.

Pensei na vida, na que não te deixei viver, por não me deixar viver. Sem ti não viveria, mas tu não viveste comigo. Só pensei em emergir, em respirar o ar da vida, em sentir o sol da vida, a chuva da vida. Não olhei para trás, não quis ver se vinhas comigo, se procuravas com o mesmo desafogo o ar que não tinha, o sentido que já não tinha.

Tenho a vida, imparável, mil milhas à minha frente, talvez nunca a apanhe. Não a vou ver olhar para mim, assim como não te vou ver olhar para mim como olhavas. Não que queira que voltes a olhar. Não te sinto em mim para que me olhes como olhavas. Só me farias querer voltar, e voltar já não posso. Já não podemos e não vamos.

Quero que emirjas também. Tu és leve, não tens o peso de não deixar viver nas costas para o arrastar. Quiçá a vida espera por ti, para te levar com ela e com ela seres feliz.”


Assim foi a despedida dele. Não lhe disse tudo isto, como poderia ter a coragem para o fazer. Ela interromperia o discurso e deixaria-o desarmado perante a mais que razoável razão que possui do seu lado da vida. Apesar disso, sentiu-o. Sentiu isto todos os dias que se seguiram e assim foi como se o tivesse dito. Porque sempre sentiu o que lhe disse e disse o que sentiu. Esta foi apenas a excepção que confirmou a regra.

terça-feira, 13 de julho de 2010

dossier de livros de folhas soltas

“ Eu já sei a verdade, apenas preciso de a ouvir da tua boca”


“Não consigo, desculpa, não te quero sujeitar a isso”


Realmente não conseguia. Queria mas não conseguia. Queria tanto como queremos quando empurramos uma estante cheia de livros à espera que ela se mova. Mas ela não se move e ele não conseguia, não consegue. As razões são as mais variadas. Podem ser escritas num dossier de livros de folhas soltas por não terem qualquer ligação para construir um enredo. De qualquer forma, sabe-as de cor, são dele. Serão? Será apenas a cabeça que exclui tudo o que já viu e leu na estante de livros e apenas não quer porque é uma maçada, ou serão os livros que estão na estante desadequados para a missão que se pretende incumbir nele mesmo.


As folhas nas quais escreveu as suas razões nem estão agrupadas por capítulos, separadores ou qualquer outro tipo de cor. São apenas linhas nem rectas nem curvas de pensamento que, sendo aleatório, levam à mesma conclusão, sempre.

As coisas saídas da boca têm outro valor do que aquelas apenas percepcionadas pelas situações em geral... assim pensavam eles. E pensam. Da boca sai aquilo de que estamos convencidos. Aquilo sobre o qual pensamos, despensamos e voltamos a construir o pensamento. Principalmente estas verdades, que são verdades, e por verdades serem, doem, e doem a valer. Porque dói o mundo, e doemos nós com o mundo, sempre que a verdade se divulga a flutuar no mar de mentiras e omissões que por nós passa todos os dias.


A verdade seriam acordes bonitos, os mais bonitos, se gostássemos de os ouvir. Sairiam da boca e não de guitarras ou flautas. Iluminariam o mundo. Limpariam-no. E seria apenas a verdade e nós todos, partilhando o verde das árvores e o escuro da noite. Não precisaríamos de candeeiros, luzes de presença ou outras que tais. Mas precisamos. Precisamos de tudo o que nos tire da nossa eterna solidão. Nunca, verdadeiramente, acompanhamos ou somos acompanhados. Nunca partilhamos experiências, pois a minha será sempre recordada de forma diferente da tua.


E ele não pode deixar que palavras, simples e inofensivas, se tornem uma arma letal que firam o seu âmago para sempre. Não agora.