segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Consumismo

O sorriso é o que mais efémero podemos apreciar. Custa tanto obtê-lo. Passam-se dias sem que tenha a verdadeira vontade de sorrir, sincero e desprotegido, mostrando a alma num gesto. No final do dia, é natal.

Certo dia, pela vida andava um homem. Esse homem tinha um cão. Ora, esse cão tinha muitas outras coisas, como pulgas, que não são importantes agora. Onde eu queria chegar mesmo era à vizinha da minha mãe que comprou uma scooter nova.

A scooter é nova, anda bem, polui menos, faz menos barulho. Tudo vantagens. Está ela feliz e estou eu feliz. Só não está feliz o senhor da mercearia. Isto porque, segundo a minha vizinha, gastou o dinheiro que tinha e não tinha na scooter e agora não tem para pagar a divida da mercearia. O problema é que a minha vizinha consegue andar a pé, só não consegue passar sem comer, apesar de ser magrinha. Presumo que, agora, já não esteja tão feliz, a minha vizinha. Não faz barulho a scooter, é verdade, mas faz o estômago. E este barulho, ao contrário do outro, não a deixa dormir.

A vizinha da minha mãe também é minha vizinha. Mas só nas férias e aos fins-de-semana. Ela trabalha muito, mas agora trabalha menos por não dormir nem comer. Assim, não tem dinheiro nem para a gasolina da scooter, passou a andar a pé. Ao andar a pé, chega ao trabalho já cansada, podia ser bom para emagrecer, mas ela já não tem dinheiro para comer. O patrão dela é que não gostou muito da brincadeira, chegava, a minha vizinha, a cheirar mal como uma peixeira. Foi para a rua, contar as pedras do caminho, porque também este estava sozinho. Mas a minha vizinha não estava sozinha, tem a scooter e também tinha um cão. Contudo, e devido aos infortúnios do destino, neste caso do cão, morreu, coitado, de fome. Melhor dona e talvez não morresse.

Chegou a altura do campeonato para fazer o balanço. Se no inicio, com a nova scooter andava eu em representação dos vizinhos todos, e a minha vizinha contentes. Agora ando eu e mais ninguém. De notar as pessoas que foram ficando tristes ao longo da jornada, incluindo o pobre do cão.

Pois a minha magrinha vizinha, mais magrinha não podia andar, se não, desaparecia. Então, foi a minha vizinha, roubar. Assim, conseguiu, por momentos, encher a despensa. Roubou a mim e quem sabe a ti. E ninguém gosta de ser roubado! Deste modo, fui eu, e talvez tu, falar com a minha vizinha, disse que a minha mãe cozinhava para ela, se ela não roubasse as coisas dela. Disse-me ela ao caso, (com voz fininha de desdém) eu ganhou mais a roubar que a trabalhar, assim já posso comer que nem um porco, e ninguém me apanha. Não apanhava porque a scooter não faz barulho.

Agora estão os vizinhos tristes e a minha vizinha contente. Mas é sol de pouca dura minha gente.

A vizinha, que também é minha, não era profissional. Era uma, não era muitos. Então, juntou-se o pessoal, porque éramos muitos e ela só uma. Estragou-se a scooter e apanhou-se a dona.

Assim, como moral da história, levou, a minha vizinha, uma sova, por causa da sua scooter nova.

1 comentário:

Verinhaa disse...

Esta mesmo engraçado!
Beijinho*