quarta-feira, 1 de setembro de 2010

ditados de alma

A vida não vai parar, vai com o vento.


“A vida não parou. Não parou nunca. Seguiu o seu caminho sem nos dar satisfações. Não as devia, a não ser por simpatia, mas não as prestou. Passou-nos ao lado. A mim e a ti. A ti por estares a meu lado, por veres a meu lado, não viveste por estares a meu lado. Devias ter vivido, devias ter sentido a vida passar perto e levar-te como o vento leva a folha solta e morta que é viva nesse momento. Mas tu não viveste por pensares que comigo irias um dia encontrar a vida mais à frente. Mas à frente não estava a vida. Estávamos os dois. Apenas. Essa solidão de vida, deixou a não vida, o estado do submundo da vida, a pairar sobre nós. Intoxicou o nós, tivemos de sair de nós, e saímos por portas diferentes. Não olhei para trás, não pensei se quer nisso.

Pensei na vida, na que não te deixei viver, por não me deixar viver. Sem ti não viveria, mas tu não viveste comigo. Só pensei em emergir, em respirar o ar da vida, em sentir o sol da vida, a chuva da vida. Não olhei para trás, não quis ver se vinhas comigo, se procuravas com o mesmo desafogo o ar que não tinha, o sentido que já não tinha.

Tenho a vida, imparável, mil milhas à minha frente, talvez nunca a apanhe. Não a vou ver olhar para mim, assim como não te vou ver olhar para mim como olhavas. Não que queira que voltes a olhar. Não te sinto em mim para que me olhes como olhavas. Só me farias querer voltar, e voltar já não posso. Já não podemos e não vamos.

Quero que emirjas também. Tu és leve, não tens o peso de não deixar viver nas costas para o arrastar. Quiçá a vida espera por ti, para te levar com ela e com ela seres feliz.”


Assim foi a despedida dele. Não lhe disse tudo isto, como poderia ter a coragem para o fazer. Ela interromperia o discurso e deixaria-o desarmado perante a mais que razoável razão que possui do seu lado da vida. Apesar disso, sentiu-o. Sentiu isto todos os dias que se seguiram e assim foi como se o tivesse dito. Porque sempre sentiu o que lhe disse e disse o que sentiu. Esta foi apenas a excepção que confirmou a regra.

1 comentário:

Inês Barros disse...

olá!
para teres uma noção, só agora vi o teu comentário no meu blog (desde o tribunal....)!

Agradeço e retribuo!
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