sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Maria Ana e João Carlos

Por estes tempos, em que faz chuva no verão, sol no Outono, e eu irei para a praia este fim-de-semana, deu-se um romance épico, da grandiosidade de Pedro e Inês, com a fatalidade destes somada com Romeu e Julieta. Nunca percebi porque é que o nome do homem vem primeiro. Desta forma, este é o romance de Maria Ana e João Carlos.

Maria, tratá-la-ei assim para me facilitar a produção escrita, era uma rapariga, como dizer, banal. Como todas as raparigas da sua idade, Maria passava horas no msn. Este programa permite a jovens mais tímido uma pré saída do armário em que os pais os fecham assim que nascem. Espreitam cá para fora, sentem o vento na cara, e passam a depender dessa sensação para viver. Viciados. Foi no msn que a Maria conheceu o João. Bom, no msn conheceram-se mas trocaram o “primeiro olhar” no hi5, ainda não estava na moda o facebook.

Ó longas conversas até as duas e três da manhã só com a troca enfurecida, desvairada, de smiles que não queriam dizer nada, mas que para eles diziam tudo. Ó nicks que levavam a percepção de cada um a extremos: “será que é para mim?”, “olha, não compreendo o teu nick, é para mim?”. E assim se faziam conversas durar semanas, porque cada um tinha aulas na sua escola e só se viam no ciberespaço.

Até que um dia, João, como bom rapaz na puberdade, deixou que a testosterona falasse mais alto, e começou no engate. Deu-se, então, início à descoberta do mundo lá fora, o João abriu o tricô do armário, só esperava que a Maria o deixasse abrir a porta de par-a-par para que, juntos, sentissem o mundo.

O engate foi-se dando, aos poucos, mas lá ia. Antes devagar que parado. Maria já só via João online, já não falava com mais ninguém, já tinha um daqueles telemóveis com msn, o que fez João implorar aos pais para também ter um. Agora já podiam estar sempre juntos. Maria adorava João, comentava todas as suas fotografias do hi5 e jogavam juntos os mesmos jogos online.

E então João avançou. Deu-lhe com toda a força na paixão e fez a pergunta. Foi com a coragem e determinação de quem já não se importa de mandar com a cara na parede, apenas não a pode ter parada.

E então veio o suspense. A hesitação só possível na comunicação via internet, o “Maria está digitando uma mensagem” não saía dali. Maria tinha ido jantar e sem querer carregou no espaço. Coitado do João. Passados dez minutos de espera, o desespero tomou conta da sua ainda pobre alma.

Fez um ultimato. “Eu sem ti não sou nada, responde-me, ou então ponho fim à minha pobre vida”. Pobre rapaz, há dias assim. Maria mortinha por dizer que sim, mas tinha os avós em casa e não pode sair da mesa tão cedo.

O pior de tudo é que esta história passou-se no verão. Chovia torrencialmente e a luz da casa de Maria foi embora. o computador era móvel, infelizmente a internet não. “Maria desligou-se”. João tomou isso como um afronte, e matou-se. Maria, quando viu no jornal do dia seguinte, chorou mas não se matou.

2 comentários:

Txuguits disse...

Que fim calamitoso para esta grande historia de amor....

O autor de tamanha fatalidade deveria ser punido severamente pois afectou a minha integridade psicológica deixando-me a pensar se deveria eu tomar João Carlos como exemplo!

Nada mais a acrescentar.

Verinhaa disse...

Está muito bom!
Que final inesperado..

BeijiinhO*