sexta-feira, 16 de abril de 2010

4:10

Fecho os olhos e arrepio-me. São três e meia da manhã. Acordado num quarto em lisboa, escrevo, hoje, sobre a minha vida. O que ela foi, o que tem sido, e o que eu espero que seja no futuro próximo. Não tem muito para falar, admito, mas como sou eu a escrever e não existe nenhum editor das mensagens que ponho no blog, não venho porque não.

Neste momento tenho em mim a canção de lisboa a suar-me nos ouvidos. Não é mau, mas dói-me a cabeça e não me apetece muito ter de aturar isto. Por isso pus o media player a tocar um qualquer cd que já não ouvia há uns tempos. Fala de desgostos de amor. Nem sobre isso a minha vida da que falar. E ainda bem!

Pena estarmos longe. Pena que não te possa tocar, que não te possa dizer, cara a cara, aquilo que quero dizer sempre que penso em ti e me vêm as lágrimas aos olhos por tu não estares. Queria tanto que estivesses. Queria tanto estar onde tu estas. Caminhar sob os teus passos, sentir o teu cheiro no ar. Saber que existe a cada momento comigo. Fazer durar a nossa musica para sempre. Queria não ter de escrever no blog porque teria algo melhor para fazer, porque estaria em boa companhia. Mas estou sozinho, num quarto que não é meu, um cheiro que não é o teu.

Estou cansado de me ouvir apenas a mim a reclamar, dentro de mim, por não ter estudado o suficiente para que estivéssemos, hoje, lado a lado. Lembro-me de, na altura, achar que até seria bom ficarmos longe um do outro, não tão longe, mas uma certa distancia providenciaria a liberdade suficiente para a vivencia académica. Não suporto a tua ausência. as minhas lagrimas são pedaços da minha alma que se cansam de estar sozinhos e vão ao teu encontro. Eu imploro para que me levem, mas nunca me ouvem.

Disse que falaria da minha vida, não costumo, mas a minha vida és tu e a faculdade, a medicina. Mais tu que a medicina. Não quero ser médico, na realidade nunca quis. Nunca quis que vidas de pessoas dependessem do meu desempenho profissional, constantemente. Não estou preparado para isso. Não consigo ser o profissional que as pessoas necessitarão. não conseguirei. Não é facil moldar uma personalidade, principalmente depois de formada. E a minha cá está. Firme e hirta, que nem barra de ferro. E não me deixa. Não me deixa estudar a anatomia, não me deixa fazer o que preciso de fazer para ser um bom profissional. Eu sou razoavel em algumas coisas, mas nunca fui bom a dar más noticias, nunca fui sensivel nessas coisas. Não sei lidar com a doença das pessoas, não sei responder empaticamente. Não consigo pensar que uma pessoa morrerá apenas porque eu fiz uma coisa mal. Não serei capaz de o aceitar.

Um dia sonhei ser investigador. A palavra é mais apelativa que a realidade dos factos. Trabalhar um cubiculo com ratos brancos de pernas para o ar o dia todo. A medir valores, observar variações, chegar ao fim do dia, assinar a folha do relatorio e vir embora. e no dia seguinte será igual. Por isso, também não vai ser por ai que me vou resolver. O problema é que não me aceitaram se não me resolver. Não posso chegar a casa e simplesmente dizer que quero desistir do curso e pronto. Feito, dinheiro para o ar, para ver se nasce. Para não falar que ocupei um lugar que outra pessoa quereria. Uma pessoa muito melhor que eu. Muito mais capaz e profissional.

Não sei o que fazer de mim sem ti, verdade. Então procuro-te, todos os dias, em colegas, amigas e amigos, com esperança da tua orientação. Verdade que a carne é fraca, verdade que os homens ficam tolos com rabos de saia, e também, mas não há futura médica que seja melhor que tu, não há pessoa que conheço que seja melhor que tu. Apenas a distancia, apenas a impossibilidade de te beijar quando preciso me faz pensar na tentação. Mas, enquanto chorar quando penso em ti, não haverá tentação suficiente para mim. Espero. Espero, também, que não te chateies se algum dia leres isto. É a verdade meu amor. Mas és tu o meu amor. E enquanto o meu coração, o a metafora que achares mais conveniente, bater, esmagar, cantar, badalar, tocar, trinar, beber, comer, dormir, escrever, ver, ouvir, olhar, sentir, tudo por ti... não haverá nada a fazer enquanto isso.

Porque eu estou contigo. E espero que estejas comigo, e com Deus.

1 comentário:

Catarina. disse...

Espero que ela leia e que não se chateie. Espero que ela leia e se emocione, se delicie, se felicite e te abrace, ainda que à distância.

Foi dos textos que mais gostei, talvez aquele em que mais deste de ti de forma mais clara, mais sentida, mais romantica até.

PS: eu acho que ela está contigo. E Deus também. Convosco.

Beijinhos *