sábado, 3 de abril de 2010

Razão,

“Eu não sei se sou capaz de me ouvir”

Como hoje, e sobretudo amanhã, celebra-se a Páscoa, venho para aqui escrever acerca do Natal. É certo, não sou muito forte na introdução aos assuntos que pretendo expor. Fosse eu o Benfica, naquelas transições feitas de olhos fechados, naquela magica que transborda de seres sobrenaturais, naquelas jogadas desenhadas com um propósito maior, um propósito de arte. Bom, se assim fosse eu, escreveria livros e haveria gente suficientemente abonada para que, em temos de crise, pagasse para ler as ideias de uma pessoa que nem conhece. Não digo que seja mau ler, eu gosto de ler, mas não aquilo que eu escrevo.
Mas o que me traz aqui hoje é uma ligeira satisfação, uma pontinha de orgulho, um quê de renovada nacionalidade. É um facto, provado ou não, certo é que os portugueses deixam tudo para a última, quando não se esquecem. Por isso, a nossa produtividade é maior e, mesmo com a nossa localização geográfica extremamente favorável para trocas comerciais, continuamos na cauda da Europa (não apenas porque a cabeça está virada para a Rússia). Assim, eu e a minha família, mais ela em conjunto que eu sozinho, cooperamos caladamente numa conspiração para deixar a árvore de Natal montada. Duas razões primárias permitem que tal suceda. A primeira é que a árvore é de plástico, e plástico não seca. A segunda desvaneceu nos mais obscuros fossos da minha memória, juntamente com muita da matéria de anatomia.
Já havia reparado neste facto a algum tempo, mas esperava encontrar alguma razão superior, uma razão que me afastasse dos vícios da sociedade incutindo, nalguns leitores ocasionais deste espaço, uma visão de mim completamente errada, mas muito mais abonatória. O que é certo e sabido é que a árvore, teimosamente, devo dizer, continuava ali, por desmontar, sozinha, sem luzes (a parte ecológica e pedagógica do texto), recordando com saudade, não a atenção que lhe deram, mas o novo CD do Tony Carreira que tocou durante as limpezas de preparação para o último Natal. E eu sem razão para a árvore ficar ali tão sossegada, à luz do dia e da noite. Razão inteligente, porque a inércia e ociosidade neste capitulo não conta.
Sempre fomos um povo conformado. Mesmo nos descobrimentos, havia uns velhos do Restelo que não queriam que fossemos, mas conformaram-se com a nossa ida. Bem, para além do conformismo que de mim se apodera, lembro-me bem do dito popular de todos nós, Natal é quando um homem quiser, penso que também se aplique às mulheres, elas lá sabem. E assim, sem mais nem menos, surgiu-me o tal ideal quimérico que tão me apoquentava por me escapar. A busca pelos valores apenas lembrados na época natalícia, ou quando há sismos na Madeira. Aí estava a minha razão, mesmo à minha frente, e por isso é que hoje escrevo aqui. Escrevo porque, para além do sono, às vezes surgem boas coisas na vida de um homem quando nos recostamos num sofá, sabendo que temos anatomia para estudar, mas que não nos apetece. E nisto é que o português é bom: Nas pequenas coisas, já que as grandes há muito que nos fogem.

1 comentário:

Verinha disse...

Gosto bastante!