domingo, 23 de maio de 2010

mundo

Hoje quero olhar o mundo. Abro a janela. Puxo a persiana apenas dez centímetros. Nesse espaço olho o mundo. Vejo o mundo daqui. Olho para longe para o ver. Longe. Muito longe. Mas consigo olha-lo. Reparo como cresceu desde a última vez que o vi. Está mais forte. Mais espadaúdo o mundo. Se não soubesse que era ele talvez não o reconhecesse. Talvez não reconhecesse o preto sobre o azul do mar. Um mar preto. Talvez não reconhecesse as novas aves que sobrevoam o céu. O céu que já não é bem azul, mas cinzento. Dessa até esperava, as pessoas envelhecem. Criam cabelos brancos. Caem esses cabelos brancos. Se calhar foi por isso que choveu o que choveu estes últimos meses. Está o mundo a ficar velho. Ou estará constipado. Talvez tenha alergia. Alegria.


O mundo é contra nós. Nós somos contra o mundo. Vivemos neste impasse. Fazemos o mundo velho à medida que ficamos mais velhos. Os mais novos já pegam, posteriormente, um mundo mais velho, menos disponibilidade têm para o envelhecer. Mas envelhecem. Envelhecemos todos. Nós não duramos para sempre. Dura o mundo para sempre.


Não é preciso preocupações extremas perante algo que nem conhecemos bem. Conhecemos o mundo. Se calhar não. Olhamos num raio à nossa volta. Deixamos os raios das voltas dos outros. E não vemos nada. Não olhamos nada. Não somos nada com ninguém, porque ninguém é nada connosco.


Substituímos tudo por nós sem pensar. Caçamos aves, comemos aves. Reaproveitamos a energia. Mas aproveitamos o seu canto. O seu encanto. Com chumbo. Com vapores que curam asma e que saem de carros e cigarros. Cortamos arvores, fazemos cadeiras. Gostamos mais da cadeira do que da arvore. Mas se um pombo reclama a sua madeira como sitio para se aliviar, está o mundo contra nós, nós que nem estávamos contra o mundo.


Introduzimos novas formas de mundo. Novo mundo no mundo. Para que quer o mundo um braço novo, uma nova perna, uns óculos. O mundo estaria de perfeita saúde se não andássemos nós contra o mundo. Como pode o mundo agradecer os parcos remendos que nele usamos para recompor aquilo que à muito estragámos?

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