quinta-feira, 2 de outubro de 2008

quando o fim acaba

As folhas voam no chão fora de tempo. Fora de espaço. Pois as calçadas ainda não estão prontas para as receber. Mas tudo voltará ao normal. Afinal, foi só uma árvore que secou. Não a floresta.

Aquilo que dizemos, nunca, quase nunca, é aquilo que queremos dizer. Sentimos necessidade de nos projectar para aquilo que idealizamos. Sentimos que não há outro meio de nos libertar. Falamos. Mas não sentimos.
Ela sentiu isso. Sentiu quando tomou a decisão da vida dela. Sentiu quando saiu de casa. E, por fim, sentiu quando o denunciou à polícia.
Foi no olhar dele daquela vez que ela não fez o que ele disse. Foi a sua recusa à independência dela. Foi o estalo. Foi a desculpa, as várias desculpas. Foi a cabeça partida num vão das escadas lá de casa. Foi por isso e pelo medo. Porque ela queria uma vida dela. Porque queria a vida dela. Não queria fazer parte da vida dele. Queria que ele fizesse parte da sua vida. Mas ela não tinha vida. E isso dificultava as coisas.
Sentiu, também, quando chegou a casa. Vazia. Sentiu quando ele chegou. Não estava embriagado, como as histórias que ouve. Quem lhe dera que ele estivesse embriagado. Desculpava-o se assim fosse. Não seria ele, seria o álcool. Mas não. Com a mesma frieza do olhar, olhar esse que aprendeu a descobrir muito tempo após o primeiro encontro.
Sentiu, como não houvera, antes, ocasião que o justificasse, o pavor. Pavor porque ele, com as suas grandes mãos, mas perfeitas, a agarrou, amarou, regou, e acendeu. Tudo isto junto com a casa. E sentiu ela e sentiu a casa. E adormeceu ela e a casa. E caiu ela e a casa.
Quando os bombeiros chegaram, apagaram a casa e ela. Fizeram o rescaldo delas juntas. Porque era assim que tinha de ser feito. Porque ela tinha uma vida. A casa era a vida. O fulgor que ela punha nas actividades que com esforço desenvolvia na casa era a sua tentativa de sobreviver, manter-se viva. Respirar.
E deixaram as duas, no mesmo sítio, a mesma coisa. As cinzas.

3 comentários:

Anónimo disse...

O menino nos seus tempos livres deve dedicar,se a escrita.. Acho qe faz muito bem=)

Prometa que vai fazer um texto feio so' mesmo para variar.. Pf!

Anónimo disse...

Concordo com a Verinha!

Acho que n vou comentar mais texto nenhum. Repito-me sempre' ou então vou ter de encontrar maneiras diferentes de dizer sempre o mesmo : Gosto dos teus textos! !!

Lalala

*

Andreia disse...

E eu concordo com a Vera e com a Catarina! =D

Gostei msm do texto!

=D*