domingo, 7 de setembro de 2008

A rotina do pensamento

Conjecturar é, sempre, fácil. Principalmente quando mantemos as conjecturas para nós. Ainda mais se essas conjecturas conjecturarem uma situação inconjecturável.

Era o primeiro dia do resto da vida dele. Ele pensava sempre isso. Todos os dias de manhã ao fazer a barba, ao lavar os dentes, ao tomar o pequeno-almoço. Sentia-se bem ao pensar dessa forma. Ao tentar mudar a rotina sufocante em que se tinha envolvido, como um colete-de-forças que prende um maluco involuntariamente,
Ao sair de casa, depois de entrar no carro e sair da garagem deixava de o pensar. Invadia-o o mesmo sentimento de impaciência, revolta, irritação. Aquele trânsito era, e seria sempre, insuportável. Mesmo assim ligava o rádio a altos berros, depois de ter soltado uns valentes palavrões ao condutor da frente para se acalmar, e sorria. Cantarolava. E sorria.
Até chegar ao emprego era assim, e sempre seria. Ao chegar ao trabalho, porque emprego é uma ocupação que não nos exige esforço ou sacrifício de qualquer espécie, já o trabalho é outra história, ouvia os mesmos berros do patrão, a mesma angustia que via todos os dias voltavam aos rostos dos seus colegas.
O resto da minha vida será como este dia. Acabava por dizer ele, entre dentes, suspirando por melhor sorte no dia seguinte. Já descrente, adormecia.
Era o primeiro dia do resto da vida dele.

1 comentário:

Anónimo disse...

E voltou o cor de rossa aos textos. Fantastico!
Deixo aqui um apelo aos leitores para visitarem http://eioumula.blogspot.com/ e que comentem principalmente o meu textinho que e' pequenino mas qe eu escrevi com muito carinho.
Beijiinhos!