domingo, 14 de setembro de 2008

da caca aos livros

Quem é que não se arrepiou numa casa-de-banho? – Pensou ele enquanto passava outra noitada no sítio de costume. A casa de banho era pequena e sem nenhum traço particular: tinha um pequeno espelho, paredes brancas, com ajuleijo até à cintura. O tecto também era branco, mas o chão estava empatulhado de tapetes e por cima destes encontravam-se os livros que ele já lera quando lá passava as noites. Definitivamente tinha de se ir embora, embora lhe custasse um pouco.
Talvez não fosse da comida. Talvez fosse um efeito secundário da experiência. Isto de ser um voluntário pago acarreta os seus riscos. Talvez esteja só nervoso. Tenho de beber mais água. Não posso desidratar. Não posso influenciar os resultados.
Como, para ele, era difícil viver naquela grande e pequena cidade. Eram tão grandes os edifícios e tão pequenas as pessoas. Não chegou a perceber isso. Tinha as luzes de todas as cidades famosas, apesar de nunca ter ouvido falar. Mas haviam muitas cidades famosas que ele nunca ouvira falar, esta seria só mais uma. Ele era um rapaz pacato, sem ocupação aparente, a não ser ler. Lia muito e tudo. Lia revistas para mulheres e para homens. Lia banda desenhada e livros universitários. Passava a vida na livraria da sua mãe, porque não tinha mais nada para fazer. E não tinha uma rapariga com quem se entreter. Ele não as via assim. Para ele, elas eram objectivos. E os objectivos eram como as estrelas (já dissera sir. Makewater) estava a milhões de milhas de distância. Mas era bom ele ter objectivos.
Começou a ler porque viu, uma vez, na televisão do seu quarto, que se encontra por cima da consola favorita e ao lado da que é menos usada, num intervalo, que ler fazia cumprir os objectivos e ter uma vida melhor. Era uma das campanhas de um qualquer governo que pretendia que os seus habitantes lessem mais.
Mesmo com tanta leitura, ele nunca se deixou literecer. Achava as coisas que lia uma seca. Mas as capas dos livros eram bonitas e gostava do fim. A mãe, uma vez, pusera-o de castigo por saltar páginas dum livro sobre astrofísica. Disse, e ele nunca esquecera estas palavras: “ é assassinar um livro, é como se libertasses um pássaro, mas deixasses sempre uma parte dele na escuridão da gaiola. O livro precisa de ser lido para nascer. O livro não nasce no autor mas no leitor. Um livro é aquilo que o autor pensa e viveu divulgado ao mundo. Quem o escreve quer que assim seja. Não cometas o pecado de ler só uma parte do livro. Se não fores capaz de ler o livro todo, não és merecedor do seu final.” A mãe dele disse isto com a calma que sempre a acompanhara, quase com se estivesse a contar uma história de embalar, mas entrara na parte decisiva e precisou de usar uma entoação mais forte. Ele decorou estas frases como provérbios. Foi a única coisa que aprendeu.

2 comentários:

Anónimo disse...

E' um texto bastante grande.. Fez,me lembrar as aulas de portugues das quais ja tenho algumas saudades.
Voltou,se a esquecer do cor de rosa e ultimamente tenho apenas sido eu a comentar nem acredito qe a Catarina me abadonou nesta missao, tenho de falar com ela e ver se o menino Julio se digna ao menos a comentar visto qe nao escreve nenhum texto!
Bejiinhos*

Anónimo disse...

Oh verinha, desculpa!!

Eu venho cá ler os textos, mas depois n sei o q comentar, pq gosto sempre. ;)

Beijinho pra Verinha*